Contexto: Queloides e cicatrizes hipertróficas são condições comuns, que resultam de um processo de cicatrização cutânea anormal e que podem acometer qualquer área da pele submetida a trauma ou infecção, especialmente as regiões de maior tensão de estiramento. Manifestam-se como cicatrizes elevadas, de consistência firme e de coloração frequentemente eritematosa ou hipercrômica. Além de inestéticas, podem estar associadas a sintomas, como prurido e dor, levando a um impacto negativo físico e psicológico na vida de quem as têm. Diferentemente das cicatrizes hipertróficas, os queloides excedem os limites das lesões que os originam. Apesar das diversas alternativas terapêuticas disponíveis, o tratamento dessas cicatrizes ainda representa um grande desafio, não havendo uma terapia padrão-ouro. Entre os tratamentos propostos, um dos mais recentes é o laser. Objetivo: Avaliar a efetividade do laser no tratamento das cicatrizes hipertróficas e queloides. Métodos: Revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados avaliando o uso de lasers para o tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloides. Foram pesquisadas as seguintes bases de dados eletrônicas, até maio de 2018: the Cochrane Wounds Specialised Register, the Cochrane Central Register of Controlled Trials, MEDLINE, Embase, EBSCO CINAHL Plus, LILACS, WHO International Clinical Trials Registry Platform e clinicaltrials.gov. Foi realizada busca manual da lista de referências dos estudos relevantes e anais de congressos; especialistas da área foram contatados para localização de estudos. Dois revisores independentes selecionaram os estudos, avaliaram a qualidade metodológica e extraíram os dados considerados relevantes. Resultados: Onze estudos preencheram os critérios de inclusão e foram adicionados a esta revisão sistemática, com um total de 466 participantes (crianças e adultos de ambos os sexos) e 733 segmentos de cicatriz (unidades de análise) avaliados. A duração dos estudos variou de 12 semanas a 24 meses. A qualidade das evidências disponíveis foi considerada baixa ou muito baixa, sendo que a heterogeneidade das intervenções, do controle e dos parâmetros de avaliação dificultou a realização de metanálises. Os segmentos de queloides e cicatrizes hipertróficas tratados com pulsed dye laser (PDL) de 585 nm apresentaram uma maior melhora na gravidade, em comparação com os segmentos não tratados, segundo a avaliação dos participantes não cegos, (RR 1,95; IC 95%: 1,10 a 3,46, 2 estudos, 60 segmentos cicatriciais, P = 0,02, I2 = 0%). O laser de CO2 fracionado, segundo avaliação pela escala de queimadura de Vancouver (VBS) apresentou melhora na gravidade dos queloides quando comparado ao não tratamento, (DM -1,90; IC 95%: -3,02 a -0,78, um estudo, 36 segmentos de cicatriz, P <0,001), porém o mesmo não aconteceu com as cicatrizes hipertróficas (DM -1,30; IC 95%: -4,32 a 1,71, 2 estudos, 104 segmentos de cicatrizes, P = 0,40; I2 = 84%). Em relação aos lasers fracionados não ablativos, os estudos disponíveis mostraram resultados conflitantes a respeito da melhora das cicatrizes, quando avaliada por observadores cegos e participantes não cegos, não sendo possível atestar a sua superioridade em relação ao não tratamento. Há dados que suportam que o PDL de 585 nm e o laser de Érbio possam ter resultados superiores à trancinolona acetonida (TAC) intralesional no tratamento de cicatrizes hipertróficas (DM: -2,50; IC 95%: -3,20 a -1,80, 1 estudo, 80 participantes, 80 cicatrizes para o PDL versus TAC e DM: -2.10; IC 95%: -2,87, -1,33, 1 estudo, 80 participantes, 80 cicatrizes para o laser de Érbio versus TAC), segundo a avaliação de observadores cegos. Nas comparações de laser associado a outro tratamento versus outro tratamento (PDL de 585 nm + TAC + 5-fluorouracil versus TAC + 5-FU, laser de CO2 + TAC versus Criocirurgia + TAC e laser Nd:YAG + preparado de betametasona + 5-FU versus preparado de betametasona + 5-FU) a análise dos dados disponíveis não mostrou diferença significativa na melhora das cicatrizes tratadas ou não com laser. Os efeitos colaterais relatados nas áreas tratadas com laser foram eritema, púrpura, edema, dor, bolhas, erosões e crostas. Nenhuma sequela permanente foi reportada. Conclusão: Não há evidências suficientes para apoiar ou refutar a efetividade do tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloides com laser, pois a qualidade da evidência disponível é baixa ou muito baixa. Devido à falta de cegamento, heterogeneidade, pequeno número de estudos e ao pequeno tamanho da amostra, mais ensaios são necessários para determinar os efeitos do laser no tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloides.