Analisando os livros Mission for my country (1961) e The White Revolution of Iran
(1967), esta dissertação tem como objetivo (1) examinar como Mohammad Reza Pahlavi
narra a transformação do Irã, de um império multiétnico e administrativamente
descentralizado, num Estado-nação moderno, centralizado e calcado numa noção imaginada
de homogeneidade racial e linguística de sua população (2) compreender as transformações
nas formas de legitimidade do poder entre a Era Qajar e a Era Pahlavi e nas narrativas que
lhes davam sustentação. Quando os Pahlavi romperam com a dualidade religiosa e temporal
da autoridade que vigorava sob os Qajares, e o Estado renunciou à jurisprudência clerical
como instrumento de legitimação do poder real, o rei se viu na posição de fornecer sua própria
narrativa para sancionar a instituição monárquica, cuja centralidade passara a ser contestada.
O xiismo duodécimo no século XX continuava, no Irã, a ser o elemento primário de
legitimação política. Por outro lado, crescia a noção de que a autoridade só era legítima na
medida em que emanasse do “povo iraniano” – uma população ligada a um território de
fronteiras definidas, e com uma história compartilhada, cujos contornos eram ainda,
entretanto, objeto de disputa -, que precisava recuperar sua antiga glória frente ao avanço
predatório das potências ocidentais. No primeiro caso, a sanção vinha pela vontade de Deus.
No segundo, pela nação como a forma natural de organização dos seres humanos, estando
implícita, neste princípio, sua antiguidade. A síntese realizada pelo xá desses dois princípios
era a de que a nação fora unificada pelas mãos do monarca no século VI a.C, que o monarca
era instrumento da ação divina, e que a vontade de Deus de unidade da nação só poderia ser
mantida com o pulso firme do monarca na sua condução. Sempre que essas condições
estivessem presentes, o Irã estaria na vanguarda da civilização. Mas esta narrativa fora
buscada na arqueologia, nas fontes bíblicas e nas fontes greco-romanas, bem como no
moderno mito de que os “arianos” eram construtores de civilização. Ao fazer esta opção, o xá
punha de lado narrativas mais tradicionais, mais populares, e que eram exploradas
efetivamente pela oposição. A partir da problemática que aqui apontamos, refletimos também
a respeito dos conceitos de “nacionalismo” e “modernização”, contestando teorias que neles
veem meramente uma “importação”.