A gastroenterite em leitões lactentes e recém-desmamados representa a principal causa de
morbidade e mortalidade durante o período neonatal. A síndrome é caracterizada por infecção
entérica multifatorial e multietiológica. Entre as causas infecciosas, o rotavírus (RV) é o
principal agente etiológico viral. Por serem mais frequentes, as espécies de rotavírus A (RVA)
e C (RVC) são as mais estudadas. No entanto, surtos de diarreia causados por espécies de
rotavírus B (RVB) em leitões lactentes estão sendo relatados em rebanhos de suínos das regiões
sul e centro-oeste do Brasil. Por sua vez, a espécie de rotavírus H (RVH) foi descrita apenas
recentemente na suinocultura brasileira. Os objetivos deste estudo foram avaliar a presença de
cepas de RV em um surto de diarreia em leitões lactentes e recém-desmamos que ocorreu em
uma granja com programa de vacinação contra patógenos entéricos, incluindo RVA, e realizar
a caracterização molecular das cepas de RVB e RVH identificadas. Para isso, três estudos
independentes foram realizados. O objetivo do primeiro estudo foi determinar as sequências de
nucleotídeos (nt) e de aminoácidos (aa) dos genes que codificam as proteínas VP6, VP7, VP4 e
NSP4 de seis cepas de campo identificadas como RVH (BR59, BR60, BR61, BR62, BR63 e
BR64) no surto de diarreia. A partir da cepa de RVH suína, SKA-1, primers específicos foram
selecionados para amplicação dos genes citados acima. Com base nas altas identidades
encontradas entre as sequências de nt (~99%) dos genes VP6, VP4, VP7 e NSP4 entre cinco
das cepas estudadas (BR59 a BR63), é possível considerá-las pertencentes a mesma linhagem
de RV, denominada RVH / BRA-1. Em contraste, uma vez que a amostra fecal BR64
apresentou uma diferença relativamente alta (81,6% e 83,4% de identidade para nt e aa,
respectivamente) na sequência referente à proteína VP7, quando comparada com as outras
cinco amostras, a mesma foi denominada cepa RVH / BRA-2. No segundo estudo, com o
objetivo de triar todas as amostras diarreicas (n = 50) obtidas no surto para RVA, B, C e H,
realizou-se RT-PCR com primers específicos para cada espécie. De acordo com os testes, RVC
(78%) foi mais prevalente nas infecções singulares (34%) e mistas (44%), seguido pelo RVA
(46%), RVB (32%) e RVH (18%). A análise filogenética de três cepas de RVA permitiu a
caracterização de dois genotipos G / P distintos, representados por G5P[13] e G9P[23],
diferentemente do G5P[7] presente em vacinas comerciais. Independentemente da espécie de
RV, as infecções mistas (54%) foram mais prevalentes do que as infecções por um único
agente. RVB e RVH foram detectados apenas em associação com outros grupos de RV,
sugerindo uma ação secundária dessas espécies no surto relatado. Finalmente, no terceiro
estudo, com base na qualidade do produto amplificado por RT-PCR, a amostra fecal de RVB
identificada como BR62, foi selecionada para análises moleculares adicionais. As sequências
de nt e aa do gene VP7 foram determinadas e a análise comparativa desta cepa com as cepas
dos outros 21 genotipos de VP7 previamente identificados mostraram que a cepa suína
brasileira pertence a um novo genotipo, G22, e parece estar circulando em diferentes partes do
mundo. Os estudos reforçam o papel dos RV como importantes agentes causadores de diarreia
demonstram a variabilidade genética entre as espécies. Além disso, esta é a primeira detecção
do genotipo de RVB, G22, em rebanhos suinícolas brasileiros.