A sepse é uma causa importante de mortalidade no homem e em diversas espécies, mas existem poucos estudos que avaliem sua ocorrência natural em cães, com base no segundo consenso de classificação dessa afecção. Assim, os objetivos do presente estudo foram aplicar esse instrumento de avaliação em pacientes caninos com suspeita de infecção e/ou Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica e/ou disfunção orgânica, classificá-los em sepse, sepse grave ou choque séptico, e identificar os agentes infecciosos bem como seu perfil de resistência a antimicrobianos no foco de infecção, na corrente sanguínea e colonizando a mucosa retal. Dos 37/42 cães que se enquadraram nos critérios de sepse, 26 (70,2%) apresentaram pelo menos dois sinais de SIRS, e a sepse grave foi diagnosticada em 27 (73%) animais. As principais disfunções orgânicas verificadas foram a diminuição do nível de consciência 21/37 (56,8%), hiperlactatemia 19/37 (51,4%) e hipoalbuminemia 18/37 (48,6%). A presença de dois ou mais sinais de SIRS associadas com hipotensão e hipoalbuminemia estiveram relacionadas com mais da metade dos óbitos. O foco infeccioso mais frequente foi pele e partes moles 20/37 (54%) seguido por órgãos e cavidades 8/37 (21,6%). A taxa de sobrevivência foi de 56,7% a animais em choque séptico apresentaram maior mortalidade. Na hemocultura confirmou-se bacteremia em nove pacientes (24,3%), com predominância de microrganismos gram-positivos em 66,6% (Staphylococcus intermedius (grupo), Streptococcus spp.) e uma levedura (Candida glabrata). As bactérias mais frequentes no foco de infecção foram as gram-negativas (46,2%) principalmente, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa, com 19,5%, 14,6% e 12,1%, respectivamente. Da mesma forma, a maioria dos cães estava colonizado por bactérias gram-negativas como E.coli -ESBL (31,5%), K. pneumoniae-ESBL (15,7%) e P. aeruginosa (15,7%), sendo que a colonização de cães por bactérias ESBL foi associada ao óbito quando comparada com outros microrganismos. Foram também isolados da mucosa retal Enterococcus resistentes a vancomicina (VRE) de quatro cães. A maioria dos microrganismos foram resistentes aos antimicrobianos fluorquinolonas, sulfonamidas, tetraciclinas e cefalosporinas. Pode-se concluir que a frequência de sepse e mortalidade foi elevada entre os cães avaliados. A presença de dois ou mais sinais de SIRS, hipotensão e hipoalbuminemia foram bons preditores de óbito. Os microrganismos gram-negativos foram os mais frequentes, tanto nas infecções quanto nas colonizações, mas não nas hemoculturas, sendo que a maioria apresentava resistência à fluorquinolonas, sulfonamidas, tetraciclinas e cefalosporinas.