Após mais de três décadas da descoberta do vírus da imunodeficiência humana (HIV-1), ainda não existe uma vacina eficaz que controle sua infecção. Considerando a importância das células TCD4+ em induzir uma resposta imune que controle a replicação viral, uma vacina de DNA codificando 18 epítopos do HIV-1 para linfócitos TCD4+ (HIVBr18) foi desenvolvida, sendo capaz de induzir uma resposta ampla, polifuncional e duradoura de células TCD4+ e TCD8+ em camundongos BALB/c e transgênicos para moléculas MHC de classe II humanas. Entretanto, como as vacinas de DNA podem apresentar imunogenicidade limitada em animais de grande porte, os adjuvantes desempenham papel fundamental na formulação vacinal. A bactéria Propionibacterium acnes tem suas propriedades adjuvantes conhecidas há décadas, demonstradas tanto em ensaios clínicos como experimentais, como o aumento da atividade fagocítica e tumoricida de macrófagos e a síntese de anticorpos antígeno-específicos, conferindo aumento na resistência de animais a diferentes patógenos. P. acnes e sua fração polissacarídica solúvel (PS) se mostraram capazes de modular a polarização Th1/Th2, agindo diretamente sobre as células apresentadoras de antígeno, modificando a expressão de moléculas coestimuladoras, TLRs e a síntese de citocinas. No presente trabalho, a coadministração de P. acnes morta pelo calor, em um esquema de redução de doses de HIVBr18, aumentou a proliferação de linfócitos TCD4+ e TCD8+ HIV-específicos, o perfil polifuncional de células TCD4+ e a produção de IFN-. Além disso, aumentou o reconhecimento por células T do número de epítopos codificados por esta vacina. O PS demonstrou ser um dos componentes da bactéria responsável pela maioria dos efeitos adjuvantes observados. Foi possível observar ainda que após dez semanas de imunização, a proliferação de células T específicas e a produção de IFN- foram sustentadas em animais imunizados com a suspensão de bactérias. Além da resposta de linfócitos T HIV-específicos, anticorpos neutralizantes e não-neutralizantes têm sua importância seja na proteção ou no controle da infecção. O efeito adjuvante de P. acnes sobre a resposta humoral foi evidente ao ser associada com a proteína recombinante gp140, de forma mais pronunciada do que com o PS, induzindo anticorpos de alta afinidade, direcionados à resposta Th1, células T auxiliares foliculares e células B de centro germinativo, além de induzir células secretoras de anticorpos. Devido ao importante papel dos linfócitos TCD4+ em auxiliar a resposta humoral, a imunização inicial com a vacina HIVBr18 foi capaz de aumentar a qualidade da resposta humoral direcionada para a gp140, e quando associada a P. acnes potencializou esta resposta evidenciada pelas células T produtoras de IFN- e proliferação tanto de TCD4+ e TCD8+. O efeito adjuvante de P. acnes no desafio de abranger a variabilidade genética do HIV-1 e a cobertura da população humana foi demonstrado ao ser associada à imunização de animais transgênicos para moléculas de HLA de classe II (DR4, DQ6 e DQ8) com HIVBr18. Além de aumentar a magnitude de resposta em um esquema de menos doses de imunização, a amplitude de resposta foi significantemente aumentada considerando o número de peptídeos reconhecidos, potencializando a antigenicidade e imunodominância desta vacina, e também foi capaz de influenciar a resposta específica para a gp140 nestes animais, induzido uma resposta humoral de maior qualidade, somada a uma resposta celular HIV-específica ampla, direcionada à maioria dos peptídeos conservados de HIV-1 e ao envelope viral.