Objetivos: Caracterizar as alterações oculares em bebês com a Síndrome Congênita
do Zika Vírus (SCZV). Com esse intuito, foram conduzidos três estudos com os
seguintes objetivos específicos: 1 - Descrever os achados oculares identificados em
crianças com microcefalia expostas ao Zika vírus (ZIKV) durante a gravidez; 2 -
Determinar os fatores de risco relacionados às manifestações oculares da SCZV; 3 -
Analisar as camadas da retina afetadas pelo ZIKV utilizando a Tomografia de Coerência
Óptica (OCT). Métodos: Para essa linha de pesquisa, foram incluídos lactentes com
microcefalia e/ou outros achados neurológicos sugestivos de infecção congênita pelo
ZIKV, nascidos entre maio e dezembro de 2015 no estado de Pernambuco. Crianças
que apresentaram confirmação sorológica para qualquer outra infecção congênita
(toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, sífilis e HIV) foram excluídas. Nos três
estudos, todas as crianças e suas respectivas mães foram submetidas a uma avaliação
oftalmológica minuciosa e à documentação fotográfica da retina usando o RetCam
Shuttle® (Natus Medical Inc., EUA). Resultados: O primeiro estudo descreveu os
achados morfológicos oculares de 10 crianças com achados fundoscópicos e
diagnóstico presumido de SCZV. O exame do segmento anterior foi normal em todos
os pacientes. Quanto à motilidade ocular, 1 criança (10,0%) apresentou nistagmo
horizontal, 4 (40,0%) exoforia e 2 (20,0%) esoforia. Além disso, 17 olhos (85,0%)
apresentaram achados anormais no nervo óptico e/ou retina. Anormalidades do nervo
óptico foram detectadas em 9 olhos (45,0%) e incluíram hipoplasia do disco, palidez e
aumento da escavação papilar. As anormalidades retinianas foram detectadas em 16
olhos (80,0%) e incluíram perda do reflexo foveal, moteamento pigmentar leve a
grosseiro e cicatrizes coriorretinianas bem definidas. No segundo estudo, 24 lactentes
(60,0%) tiveram seu diagnóstico confirmado por meio do teste sorológico. As alterações
fundoscópicas foram observadas em 37 (46,3%) olhos de 22 (55,0%) lactentes. Para
fins estatísticos, as crianças foram divididas em dois grupos: com e sem alterações
oftalmoscópicas. Os fatores de risco identificados foram microcefalia severa ao
nascimento (frequência, -1,50; IC 95%, -2,56 a -0,51; P = 0,004) e o trimestre em que
ocorreu a infecção materna (frequência, 0,36; IC 95%, 0,02- 0,67; P = 0,04). O terceiro
estudo avaliou as camadas da retina afetadas em oito olhos com cicatriz coriorretiniana
utilizando a OCT. Os principais achados da OCT incluíram descontinuação da zona
elipsoide e hiperrefletividade abaixo do epitélio pigmentado da retina (EPR) em 9 olhos
(100%), afinamento da camada neurossensorial da retina em 8 (89,0%), afinamento da
coroide em 7 (78,0%) e escavação colobomatosa da retina, EPR e coroide em 5
(44,0%). Conclusões: 1 - As principais manifestações oftalmológicas identificadas na
SCZV foram lesões retinianas (moteamento pigmentar focal e atrofia coriorretiniana) e
anormalidades do disco óptico (palidez, hipoplasia e aumento da escavação). 2 - O
envolvimento ocular em lactentes com SCZV foi observado principalmente em crianças
com menor diâmetro cefálico ao nascimento e naquelas cujas mães relataram sintomas
durante o primeiro trimestre gestacional. 3 - O ZIKV pode causar danos graves à retina,
incluindo as camadas interna e externa, bem como a coroide.