Diferentes estudos têm demonstrado uma variação importante na frequência diagnóstica
dos tumores de glândula hepatoide em cães, possivelmente devido à ausência de
critérios morfológicos claros e bem estabelecidos em seu diagnóstico. Não estão bem
definidos os critérios clínico-patológicos associados ao comportamento biológico destas
neoplasias. Alguns estudos levantam a hipótese de participação do mecanismo de
transição epitélio-mesenquimal devido à frequente imunoexpressão de vimentina em
tumores de glândula hepatoide, porém esta hipótese permanece sem comprovação. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a concordância diagnóstica entre patologistas, assim
como investigar o mecanismo de transição epitélio-mesenquimal e a taxa de proliferação
celular por marcadores imuno-histoquímicos e, por fim, correlacioná-los com sobrevida
para investigação de possíveis valores prognósticos. Cinco patologistas avaliaram 57
tumores de glândula hepatoide quanto ao diagnóstico e quanto a diversos critérios
morfológicos e, com base nestes critérios, foram desenvolvidos algoritmos diagnósticos
por meio de árvores de regressão por partição recursiva. Adicionalmente, foram
investigadas as imunoexpressões de vimentina, pancitoqueratina, E-caderina e Ki-67 em
78 lesões, comparando-as entre glândulas normais, tumores benignos, tumores malignos e
tumores malignos vasculoinvasivos/metastáticos. A sobrevida livre de recorrência local,
recorrência da doença, sobrevida global e sobrevida doença-específica foram investigadas
em 33 pacientes. Houve concordância média razoável em análise interobservador quanto
ao diagnóstico (=0,54), com potencial de melhora para concordância média boa após
aplicação de dois novos algoritmos diagnósticos (=0,64 e 0,65, respectivamente). Em
relação aos marcadores imuno-histoquímicos, foram observadas maior expressão de
vimentina e menor expressão de E-caderina em tumores malignos em comparação aos
tumores benignos. Adicionalmente, observou-se uma forte correlação negativa entre a
expressão de vimentina em células de reserva e expressão de pancitoqueratina em células
diferenciadas (=-0,65, p<0,0001), além de maiores taxas de proliferação celular (Ki-67)
e contagem de mitoses em tumores malignos em comparação com tumores benignos.
Em análise univariada de sobrevida doença-específica, os fatores prognósticos foram
a presença de invasão vascular ou metástase no momento do diagnóstico, o escore de
E-caderina em células de reserva e diferenciadas, e o tamanho tumoral. Em relação ao
tempo de sobrevida livre de doença, os fatores prognósticos foram a presença de invasão
vascular ou metástase no momento do diagnóstico, escore de E-caderina em células de
reserva e diferenciadas, perda de polaridade celular, grau de infiltração, histórico de
doença recorrente, escore de morfologia fusiforme e proporção de células de reserva.
Os resultados do presente estudo confirmaram que existe um grau de discordância
diagnóstica entre patologistas que poderia explicar parte da variação observada na
prevalência de carcinomas de glândula hepatoide em literatura, e de que existe potencial
para melhora da concordância diagnóstica por meio dos algoritmos propostos. Ainda, os
achados reforçaram a hipótese de que o mecanismo de transição epitélio-mesenquimal
participa na progressão tumoral em neoplasias hepatoides em cães, explicando a frequente
imunoexpressão de vimentina observada nestes tumores. Por fim, foi demonstrado que
a presença de invasão vascular ou metástase no momento do diagnóstico tem impacto
significativo na sobrevida dos animais, assim como há outras características clínicas,
morfológicas e imuno-histoquímicas com valor prognóstico para recorrência da doença e
sobrevida.