Objetivo: descrever as características epidemiológicas, clínicas, diagnósticas e terapêuticas da síndrome de hiperinfecção por Strongyloides stercoralis em transplante renal, identificar os fatores de risco para síndrome de hiperinfecção e para mortalidade em 30 dias, comparar os casos de ocorrência precoce e tardia. Métodos: estudo retrospectivo, multicêntrico, 1:2 caso-controle, com análise univariada e multivariada para os fatores de risco. Resultados: foram incluídos 46 casos e 92 controles. A mediana para o diagnóstico foi de 117 dias pós o transplante e 39,1% dos casos ocorreram pós 6 meses. Sintomas gastrointestinais (78,3%) e respiratórios (39,1%) foram os achados clínicos mais frequentes. Febre e eosinofilia estavam presentes em 32,6% e 43,5% dos casos respectivamente. Mortalidade em 30 dias foi de 28,3% e foi significativamente maior para casos que ocorreram nos primeiros 3 meses pós transplante (47% x 17,2%, p0,04). Fatores de risco independentes foram doador falecido (OR6,16, IC95% 2,05-18,5), infecção bacteriana prévia (OR3,04, IC95% 1,2-7,5) e dose acumulada de corticoide (OR1,005, IC95% 1,001-1,009). Insuficiência respiratória (OR 98,33, IC95% 4,46-2169,77) e bacteremia (OR 413,00, IC95% 4,83-35316,61) foram preditores independentes para mortalidade. Conclusões: hiperinfecção por Strongyloides stercoralis está associada a uma significante morbidade e mortalidade no pós transplante. Em áreas endêmicas, a doença pode ocorrer em períodos mais tardios, apesar de ser mais grave no período mais precoce do pós-transplante. Fatores de risco específicos (dose acumulada de corticoide, infecção bacteriana prévia e doador falecido) associado a manifestações clínicas (sintomas gastrointestinais e respiratórios) podem ser utilizados para identificar pacientes de risco para profilaxia ou para tratamento precoce.