Introdução: Os pacientes diabéticos insulino-dependentes com insuficiência renal
crônica (IRC) levam uma vida de intenso sofrimento devido às restrições dietéticas
impostas pela doença incapacitante e à dor crônica e, principalmente, pela
dependência do suporte dialítico. Além de proporcionar o estado euglicêmico e
normalização da função renal, o transplante simultâneo pâncreas-rim (TSPR) tem se
mostrado importante na estabilização e até reversão de algumas complicações
crônicas decorrentes do diabetes mellitus (DM), melhorando significativamente a
qualidade de vida desses pacientes. As doenças psíquicas como a ansiedade e a
depressão são subdiagnosticadas e subtratadas, principalmente pela presença de
sintomas clínicos confundidores, que ocorrem frequentemente nas doenças
crônicas. Desta forma, o objetivo deste estudo foi estabelecer e mensurar os
sintomas de depressão e ansiedade mais prevalentes em pacientes com DM e com
IRC em fila de espera para o TSPR, comparando estes sintomas nos pacientes já
submetidos ao TSPR. Métodos: Foram estudados 127 pacientes, acompanhados
pelo ambulatório do Hospital do Rim de São Paulo, sendo 39 candidatos ao
transplante e na fila de espera, todos portadores de DM e IRC, e 88 pacientes já
submetidos ao TSPR. Foram comparados os dados dos questionários de Beck no
pré e pós TSPR, sendo estes divididos em dois grupos: com sintomas
ansiedade/depressão e sem sintomas. Também foram comparados individualmente
os 21 sintomas estressores dos questionários BDI e BAI entre os grupos no pré e
pós TSPR. Resultados: Foram encontradas diferenças significantes no que diz
respeito à depressão entre os grupos de pacientes na fila de espera e pós TSPR
[18/39 (46,1%); 18/88 (20,4%); p=0,003], respectivamente. Quando comparados
individualmente os sintomas do questionário BDI entre o pré e o pós TSPR
observamos diferenças significantes em relação à depressão: sentimento de punição
(p<0,001); pensamento e desejo suicidas (p=0,008); irritação (p=0,009); falta de
energia/trabalho (p=0,007); alteração no padrão de sono (p=0,039); preocupação
com a saúde (p=0,004) e perda de interesse por sexo (p=0,029). No que diz respeito
a ansiedade, não houve diferença significante entre os grupos pré e pós TSPR
[16/39 (41%); 25/88 (28,4%); p=0,161)], respectivamente. Porém na comparação
individual dos itens do BAI foram encontradas diferenças significantes em relação a
ansiedade: medo que aconteça o pior (p=0,030); medo de morrer (p=0,005);
assustado (p=0,029); sensação de desmaio (p=0,015), todos favorecendo o póstransplante.
O TSPR melhora os sintomas depressivos tanto do ponto de vista global
quanto específicos, tendo impacto positivo em termo de oferecer ao paciente maior
interesse e entusiasmo pela vida. Já em relação a ansiedade, embora não tenha
mostrado melhora global, o TSPR parece impactar de forma positiva oferecendo
maior segurança em relação à doença e à vida.