A hérnia escrotal é uma malformação congênita frequente na produção de suínos, caracterizada pela abertura anormal do anel inguinal e que permite a passagem de alças intestinais ao saco escrotal. Essa condição inicia-se no período fetal e envolve modificações anatomofisiológicas da descida testicular. A hérnia causa dor, desconforto e reduz o desempenho do animal afetado, acarretando grandes perdas econômicas na suinocultura. Buscou-se, portanto, identificar genes relacionados com a ocorrência desta patologia por meio de estudos de expressão gênica quantitativa (qPCR) no tecido do anel inguinal de suínos normais e afetados com hérnia escrotal. Primeiramente, a estabilidade de expressão de 10 genes normalmente utilizados como referência foi analisada em diferentes condições experimentais: 1) leitões com 30 dias de idade da linhagem MS115 e 2) suínos de 60 dias de idade da raça Landrace. Amostras teciduais do anel inguinal foram colhidas após eutanásia dos leitões, congeladas em nitrogênio líquido e submetidas à extração do RNA total e síntese de cDNA. Os resultados de expressão gênica dos grupos amostrais foram analisados por meio das ferramentas geNorm (SLqPCR), NormFinder, BestKeeper e método ΔCt e uma listagem geral foi estabelecida com o uso da ferramenta BruteAggreg. Os genes RPL19, RPL32 e H3F3A demonstraram as melhores estabilidades de expressão aos 30 dias e o PPIA e RPL19 aos 60 dias de idade e foram considerados adequados genes de referência para as condições estudadas. Posteriormente, foram avaliados 17 genes candidatos para a ocorrência da hérnia escrotal, a partir de amostras teciduais de 18 suínos machos inteiros da raça MS115 com 30 dias de idade, agrupados em normais (n=9) e afetados (n=9) com hérnia escrotal. Os genes escolhidos para a análise de expressão foram identificados em estudo prévio do transcriptoma do anel inguinal de suínos com 60 dias de idade, normais e afetados com hérnia escrotal. Considerando o nível de expressão no transcriptoma e algumas funções biológicas, 17 genes alvos foram avaliados: MYH1, DES, TNNI1, ACAN, ACTG2, ACTA1, FGF1, MMP1, FMOD, FBN2, ADCY5, MYBPC1, MAP1LC3C, GUSB, MYH7, COL23A1 e CNN1. Os primers para cada gene foram desenhados a partir da sequência do genoma suíno (Sus scrofa) depositada no GenBank. A quantificação relativa dos genes alvos foi realizada por qPCR e os valores do ciclo de amplificação (Cts) dos genes foram obtidos. O programa REST® (Relative Expression Software Tool) foi utilizado para comparar a expressão gênica entre os grupos experimentais por meio de uma análise não paramétrica e os genes RPL19, RPL32 e H3F3A foram utilizados como constitutivos. Os genes MYH1, DES e TNNI1 (p≤0,05) e ACTA1 e MYH7 (p≤0,08) apresentaram menores níveis de expressão no grupo afetado comparado ao grupo controle. A menor expressão destes genes nos animais afetados pode estar relacionada ao aparecimento da hérnia escrotal em suínos pela reduzida capacidade de sustentação na região inguinal. Esses resultados contribuem para o melhor entendimento do mecanismo genético envolvido no aparecimento da hérnia escrotal.