A brucelose é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Brucella. Apresenta ampla distribuição mundial, sendo considerada uma das principais causas de aborto, problemas reprodutivos e descarte precoce dos animais, além de prejuízos para a produção de bovinos e ovinos devido às significativas perdas econômicas e barreiras sanitárias. Sabe-se que entre os mecanismos fisiológicos, a formação de radicais livres ocorre naturalmente, no entanto, sob condições patológicas, como na brucelose, pode haver uma superprodução desses radicais, causando danos às células e aos tecidos e, portanto, exigindo uma maior ativação do sistema antioxidante, do que em situações normais. Nestas mesmas condições, é enfatizada a importância de estudos sobre as enzimas que atuam como marcadores inflamatórios, como é o caso da adenosina deaminase (ADA), colinesterases e ectonucleotidases. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar se há ocorrência de estresse oxidativo e alteração na atividade de enzimas purinérgicas, colinérgicas e do metabolismo energético em animais infectados para Brucella abortus e Brucella ovis em condição natural e experimental, respectivamente, além de avaliar a soroprevalência de B. abortus em propriedades localizadas no oeste do estado de Santa Catarina. Para atingir os objetivos, três experimentos foram conduzidos. Para o experimento I, foram selecionadas amostras de sangue e soro de vacas de um rebanho do oeste do estado de Santa Catarina, alimentados com a mesma dieta, e com suspeita de brucelose por apresentarem histórico de aborto no último terço de gestação e repetições estro constantes. Entre esses animais, foram selecionados o soro de 10 animais positivos para B. abortus e 10 negativos. Observou-se nos animais soropositivos uma redução na atividade da ADA, assim como da enzima catalase (CAT). Já a peroxidação lipídica (TBARS) e atividade da superóxido dismutase (SOD) foi maior nas vacas soropositivas (P<0,05). Portanto conclui-se que as vacas estão em condição de estresse oxidativo e uma redução da ADA visa diminuir a resposta inflamatória, visto que essa enzima é responsável por regular níveis da molécula anti-inflamatória conhecida como adenosina. O experimento II foi conduzido em propriedades do oeste do estado que não estão em vigilância para a doença brucelose. Um total de 1242 amostras de soro oriundas de vacas da região oeste de Santa Catarina foram submetidas ao protocolo sorodiagnóstico conhecido como teste de Antígeno Acidificado (AAT) e em seguida ao teste de 2-Mercaptoetanol (2-ME) para fins de confirmação. Todas as amostras avaliadas foram soronegativas para B. abortus. Embora não tenhamos encontrado animais soropositivos para brucelose em nosso estudo, a doença ainda requer uma vigilância contínua, devido ao seu impacto econômico e ao estresse oxidativo causado por ela, o que pode ter contribuído para casos de aborto em três vacas soropositivas (Experimento I) no terço final da gestação após analises bioquímicas. No experimento III utilizou-se 48 camundongos, sendo que 50% deles foram infectados experimentalmente por B. ovis e os demais foram utilizados como controle (não infectados). Parâmetros hematológicos, bioquímicos e histopatológicos foram avaliados nesses animais em quatro momentos (dia 7, 15, 30 e 60 pós-infecção (PI)). Observou-se que a infecção pela bactéria B. ovis em modelo experimental provoca distúrbios hematológicos como uma redução dos níveis de hematócrito e aumento da contagem de leucóticos; alterações bioquímicas como diminuição dos níveis séricos de albumina e aumento de globulinas (dia 15, 30 e 60 PI), e patológicos como esplenomegalia, esplenite granulomatosa e granulomas hepáticos multifocais. A redução dos níveis de hematócrito na fase aguda da infecção, bem como a resposta inflamatória exacerbada, pode contribuir para danos no tecido esplênico e hepático, e assim pode alterar a função hepática, diminuindo os níveis de albumina. A atividade da AChE foi elevada em sangue e homogenizado de cérebro, bem como a BChE em soro. Este aumento é caracterizado como uma resposta pró-inflamatória, visto que, estas enzimas regulam os níveis de acetilcolina (ACh), a qual apresenta efeito anti-inflamatório. Além disso, a infecção por B. ovis reduziu a atividade das enzimas NTPDase e 5'-nucleotidase em cérebro na fase aguda, com posterior elevação na fase crônica, sugerindo que a hidrólise de nucleotídeos é baixa na fase aguda devido à diminuição destas enzimas. O mesmo ocorreu com a ADA em soro, enzima responsável por regular os níveis de adenosina extracelular. A diminuição de sua atividade na fase aguda sugere ação anti-inflamatória, ao passo que, com a cronificação da doença, eleva sua atividade na tentativa de combater o agente, apresentando então ação pró-inflamatória. A resposta inflamatória também é evidenciada pelo aumento dos níveis de proteína C-reativa em soro nos animais infectados, visto que, esta proteína é produzida pelo fígado em resposta a estímulos inflamatórios, infecção e dano tecidual. Quanto as enzimas do metabolismo energético, observou-se nos animais infectados uma elevação da atividade cardíaca da creatina quinase (CK) citosólica (30 e 60 PI) e diminuição da creatina quinase mitocondrial (30 e 60 PI) bem como da piruvato quinase (PK) (60 PI). Estas alterações sugerem um comprometimento da síntese e regulação de ATP, associado a um aumento na produção de espécies reativas ao oxigênio (ROS) em soro, baço, fígado, coração, cérebro e nas concentrações de TBARS cerebrais e cardíacos observados em nosso estudo. A ativação dos mecanismos antioxidantes foi evidenciada pelo aumento dos níveis séricos e cardíacos de SOD, bem como a redução das concentrações séricas de CAT e de níveis de tióis não-proteicos (NPSH) em coração. Portanto concluímos que infecções por B. abortus e B. ovis geram um quadro de estresse oxidativo a nível sérico e tecidual, que pode contribuir negativamente para a doença, assim como concluímos também que enzimas dos sistemas purinérgico, colinérgico e metabolismo energético participam da regulação da resposta inflamatória da doença de forma direta ou indireta, conforme detalhado nessa dissertação.