Fraturas ósseas são um importante evento na clínica médica e estão relacionadas
principalmente a ocorrência de traumas, acidentes, lesões esportivas e doenças. Nesse contexto,
os biomateriais vem ganhando destaque como alternativa no tratamento de fraturas, sobretudo
o biovidro ativo 45S5, que é considerado o padrão ouro de performance no tratamento de
fraturas. No entanto, a grande problemática desse recurso se dá pelo seu alto custo de
manufatura ou importação o que torna o seu acesso à população restrito. Dessa forma, pesquisas
que visem prospecção de produtos naturais que tenham uma boa performance no reparo ósseo
se fazem cada vez mais necessárias. Nesse contexto, as esponjas marinhas, que já são os
organismos marinhos mais utilizados em pesquisas médicas, apresentam em seu esqueleto uma
porção orgânica, a qual é um análogo do colágeno tipo XIII chamado espongina, além de uma
porção inorgânica chamada Biosilica (BS), que compõe as espículas desses organismos
marinhos. Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho foi: (i) caracterizar físicoquimicamente a BS e (ii) avaliar o efeito biológico de BS através de análises in vivo. O BG
45S5 foi utilizado para comparação em ambos os casos. A caraterização foi feita através de
MEV/EDX, XRD, FTIR, ensaio de Cálcio e pH. Para os testes in vivo, foram realizadas analises
histopatológicas, histomorfométricas e ensaio de biomecânica de três pontos. Os resultados de
MEV/EDX indicaram que a BS, após sua extração, apresentou estruturas em formato de
espícula com presença dos elementos Si (Sílica) e O (oxigênio) em sua composição, enquanto
o BG apresentou partículas de tamanho e formato variados com presença dos elementos Si
(Sílica), O (Oxigênio), Ca (Cálcio), Na (Sódio), Al (Alumínio), Mg (Magnésio) e P (Fósforo).
Nos resultados de FTIR, foi possível observar picos referentes aos grupamentos Si-OH e Si-OSi em BS e BG, além do BG apresentar também pico referente ao grupamento P-O. O espectro
de XRD demonstrou a característica predominantemente amorfa da BS, porém ainda com picos
cristalinos característicos de amostras contendo Sílica, enquanto o BG demonstrou ser
completamente amorfo. No ensaio de Ca, BS no dia 1 demonstrou mineralização, enquanto BG
demonstrou liberação do íon da solução de incubação. Contudo, a partir do dia 3, BS e BG
demonstraram liberar Ca na solução incubadora, sendo este processo mais proeminente em BG
até o último período. As análises de pH permitiram observar que BS acidificou o meio de
incubação no dia 1 e, a partir do terceiro dia, o mesmo alcanço um platô próximo ao pH
fisiológico, enquanto BG demonstrou alcalinizar o meio do dia 1 até o dia 21. Os resultados da
análise histopatológica, em tíbias de ratos após 15 dias, demonstraram extensa formação de
tecido ósseo em Grupo Controle (GC), este apresentando áreas de tecido osteóide. BS
demonstrou ser biocompatível, com inicial formação de tecido ósseo neoformado,
principalmente na periferia do defeito, apresentando tecido osteóide, além de extensa formação
de tecido de granulação organizado ao redor das partículas de BS. BG apresentou áreas de
formação de tecido ósseo neoformado em maior extensão que BS, com grande volume de tecido
osteóide entremeado pelas partículas de BG e tecido de granulação menos evidente. O
parâmetro histomorfométrico para a superfície osteoblastica (Ob.S/BSf) demonstrou a
bioatividade e o efeito anabólico da Biosilica. A análise biomecânica demonstrou boas
propriedades mecânicas da BS. Por fim, foi possível concluir, que a BS pode apresentar um
grande potencial no processo de reparo de fraturas, no entanto são ainda necessários mais
estudos de caráter biológico com períodos experimentais mais longos e com diferentes formas
de apresentação do material, afim de se elucidar os mecanismos envolvidos no reparo e de se
otimizar a performance deste novo material.