Objetivo: O manganês (Mn) é um dos elementos químicos mais comuns na
Terra. É naturalmente presente nas rochas e no solo e também na alimentação
como, por exemplo: nozes, frutos do mar, chá, sementes, algas marinhas, dentre
outros. A toxicidade reprodutiva do Mn é assunto ainda pouco explorado na literatura
científica. Além disso, não há estudos que avaliem os mesmos animais
experimentais quanto a parâmetros de neurotoxicidade e toxicidade reprodutiva,
comparando a vulnerabilidade desses dois sistemas biológicos. Assim o presente
projeto pretendeu avaliar os riscos da exposição a níveis suprafisiológicos de Mn
sobre parâmetros comportamentais, reprodutivos, hepáticos e renais de ratos
machos adultos. Metódos: Ratos machos adultos da linhagem Wistar (n=24) foram
distibuídos em três grupos experimentais (n =8/grupo): C (grupo controle, recebeu
apenas o veículo solução salina a 0,9%); Mn1 (recebeu cloreto de Mn, MnCl2, na
dose de 5 mg/Kg de massa corpórea, diluido em solução salina a 0,9%); Mn2
(recebeu cloreto de Mn, MnCl2, na dose de 15 mg/Kg de massa corpórea, diluido em
solução salina a 0,9%). Os tratamentos foram aplicados diariamente por via
intraperitonial, do dia pós-natal (DPN) 90 ao 120. Durante essas quatro semanas, os
animais foram avaliados quanto à evolução da massa corpórea. Entre o DPN 110 e
113, os ratos foram submetidos a testes comportamentais relacionados à ansiedade,
habilidade motora e atenção. No DPN 120, os ratos foram pesados e anestesiados
com uma associação de xilasina e quetamina, e logo após eutanasiados por
decapitação. Os testículos e epidídimos direitos, próstata ventral, vesícula seminal
(cheia e vazia de secreção, com a glândula coaguladora), ducto deferente direito,
fígado, rins e adrenal foram pesados em balança analítica de precisão. Os testículos
e epidídimos direitos foram destinados às contagens espermáticas, enquanto os
esquerdos foram retirados para processamento histológico. O ducto deferente foi
utilizado para coleta de gametas destinados às análises de morfologia e motilidade.
Fígado e rins foram processados para análise histopatológica. Resultados: Os
animais do grupo Mn2 apresentaram sua atividade locomotora prejudicada em
comparação com o grupo C. Por outro lado, as injeções diárias de Mn não afetaram
o comportamento dos ratos no teste de inibição pré-pulso (IPP), que oferece umamedida operacional do filtro sensório-motor, e no teste do labirinto em cruz elevado,
utilizado para investigação de parâmetro de ansiedade dos animais. Houve redução
da massa corpórea dos animais do grupo Mn2, além de redução no massa absoluta
do epidídimo e próstata dos animais dos grupos Mn2 e Mn1, quando comparados ao
C. Ademais, o tratamento induziu o aumento do número de espermatozoides
imóveis e com anormalidades morfológicas, sendo as mais relevantes encontradas
na cabeça. Houve aumento na porcentagem de túbulos seminíferos anormais nos
animais expostos ao Mn, com ocorrência de vacúolos no epitélio, células acidófilas e
focos de degeneração. No ducto epididimário, observamos redução de
espermatozoides e presença de células na luz, além de redução na contagem de
gametas na região da cauda dos grupos expostos ao Mn em relação ao C. A análise
histopatológica do fígado revelou focos de degeneração hidrópica. Conclusão:
Nossos resultados mostram que, nessas condições experimentais, a histopatologia
do fígado foi afetada provavelmente devido a grande demanda de detoxificação nos
grupos tratados. Além disso, o sistema reprodutor masculino foi mais sensível à
toxicidade do Mn do que o sistema nervoso, conhecido como principal alvo de ação
desse metal e, portanto, principal foco de estudo sobre a toxicidade do Mn. Houve
comprometimento da qualidade dos gametas e da histoarquitetura das gônadas dos
animais estudados, provavelmente por diferentes mecanismos testiculares, i.e. ação
direta em células germinais e toxicidade na célula de Sertoli indicando prejuízo grave
à saúde reprodutiva dos animais. Frente a esses dados, sugere-se inclusão do
sistema reprodutor nos estudos técnicos de avaliação de risco para o Mn.