Nas últimas décadas grandes proprietários da região do Cariri paraibano têm investido na
pecuária de caprinos e na publicação de livros de genealogia e memórias de suas famílias.
Partindo de pesquisa com os Dantas Vilar, Suassuna e Fernandes Batista, a tese analisa esses
movimentos dentro de estratégias de reconversões sociais: tentativas de “mudar para
permanecer igual”, de manter um status social, mas de transformar um patrimônio material e
simbólico de uma elite sob risco de desclassificação após mudanças recentes nas desigualdades
sociais entre o mundo rural e urbano no Nordeste. Por esse caminho, os pecuaristas do Cariri
paraibano expressam uma ideia de convivência com as secas sintonizada com bandeiras
políticas que, desde final dos anos 1970, circulam entre veículos de imprensa das sociedades de
grandes pecuaristas de todo o Nordeste. Diferente da convivência com as secas de pastorais,
ONGs e movimentos sociais, o projeto dos pecuaristas de superação do combate às secas exalta
a grande propriedade da terra: a fazenda pecuarista seria o local, por excelência, para aprender
a conviver com as estiagens. Esse argumento tem legitimidade produzida pela figura de
“patriarcas” de famílias que afirmam representar uma linhagem da “Civilização do couro” e
deter um saber legítimo sobre vocações “naturais”, como a caprinocultura no semiárido
nordestino. Enquanto estratégia de manter uma posição de prestígio, a convivência com as secas
das elites pecuaristas também se insere nas lutas sobre o imaginário regional, influenciando na
transformação dos caprinos – antes tidos de menor status social em relação aos bovinos – como
símbolo de uma “nordestinidade” autêntica: argumento que tem legitimado de eventos turísticos
e gastronômicos à políticas de desenvolvimento rural em todo semiárido nordestino.