A bromelina do caule [EC 3.4.22.32] é um complexo de tiol-endopeptidases usado na medicina tradicional devido as suas atividades anti-inflamatória e digestiva. Apesar de artigos demostrarem sua ação antinociceptiva, o mecanismo de ação ainda é pouco conhecido. Proencefalina (PENK), precursor endógeno de encefalinas, é um possível candidato a substrato de bromelina devido à presença de pares de resíduos de aminoácidos básicos que flanqueiam as sequências de encefalina. PENK é expressa não apenas no sistema nervoso central, mas também no trato gastrintestinal, sendo, assim, acessível à bromelina administrada por via oral. O objetivo deste trabalho foi avaliar se a hidrólise de proencefalina por bromelina do caule in vivo está associada à liberação de encefalina e se o efeito antinociceptivo de bromelina do caule é dependente de sua atividade proteolítica. Estudos realizados em camundongos da linhagem Swiss (testes de placa quente, de contorções abdominais induzidas por ácido acético e de formalina) confirmaram que a atividade antinociceptiva de bromelina do caule, quando administrada por via oral, é dependente da atividade proteolítica. A dose que produziu máxima analgesia foi de 3 mg/kg, no tempo de 3 h após administração, enquanto o grupo que recebeu dose de 300 mg/kg não mostrou qualquer resposta antinociceptiva (P>0,05, comparado ao grupo controle). Demonstramos, por ensaios in vitro, que bromelina do caule hidrolisa peptídeos derivados de PENK após os resíduos Arg-Agr, Lys-Arg e Lys-Lys, que flanqueiam as sequências da encefalina. Estudos subsequentes in vivo mostraram que a administração oral de bromelina em camundongos reduz os níveis de PENK no jejuno e aumenta os níveis séricos de encefalina. Estes efeitos não foram acompanhados por alteração na coagulação sanguínea, com base nos parâmetros tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA). Também não foi detectado bromelina no soro dos animais tratados. Em conjunto, estes achados sugerem que a hidrólise de PENK no trato gastrintestinal e a consequente liberação de encefalina contribuem para o efeito antinociceptivo de bromelina do caule administrada por via oral. Além disso, os dados reforçam o potencial uso de bromelina como um fitoterápico analgésico.
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