Microrganismos representantes das ordens Rickettsiales e Legionellales podem ser transmitidos através da picada de ectoparasitas, e causar infecções em animais domésticos, silvestres e humanos. O presente estudo teve como objetivo investigar a ocorrência de Rickettsia spp., Ehrlichia spp. e Coxiella burnetii em mamíferos silvestres, cães domésticos e seus respectivos ectoparasitas no semiárido nordestino do Brasil, utilizando técnicas sorológicas e moleculares. Entre agosto de 2014 e novembro de 2016, foi coletado sangue total de 147 cães, 51 roedores, 18 marsupiais e um canídeo silvestre. Todas as amostras de plasma (extraídas de sangue total) foram testadas individualmente utilizando a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) para detectar anticorpos contra Rickettsia rickettsii, Rickettsia amblyommatis e Coxiella burnetii, e amostras de cães domésticos foram posteriormente testadas para Ehrlichia canis. As amostras de DNA de mamíferos e ectoparasitos foram analisadas por meio da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) para a presença dos genes gltA (Rickettsia spp.), dsb (Ehrlichia spp.) e cap (Coxiella spp.), seguidas de sequenciamento e análises filogenéticas. Um total de 222 carrapatos, 84 pulgas e seis piolhos foram coletados, parasitando os animais amostrados. Pertencendo aos seguintes gêneros e espécies: Carrapatos (Rhipicephalus sanguineus sensu lato, 119 Ixodes loricatus, 32 Amblyomma parvum, 15 Amblyomma sp., 13 Amblyomma auricularium, 3 Ornithodoros rietcorreai e 2 Haemaphysalis sp.), Pulgas (52 Ctenocephalides felis felis, 19 Pulex sp. e 13 Polygenis (Polygenis) bohlsi jordani), e piolhos (4 Polyplax sp. e 2 Gyropus sp.). No total, 77,5% dos cães e 7,1% dos mamíferos silvestres foram soropositivos (título ≥ 40 para E. canis, ≥ 64 para C. burnetii e Rickettsia spp.) para pelo menos uma espécie de patógeno. Foi observada soropositividade para E. canis em 102 cães (69,3%), para R. amblyommatis em 41 cães (27,8%), dois roedores (3,9%) e no único canídeo silvestre, para R. rickettsii em 14 cães (9,5%) e dois roedores (3,9%), para C. burnetii em cinco cães (3,4%), um marsupial (5,5%) e um roedor (1,9%). Treze amostras de sangue de cães (8,8%), uma amostra de sangue marsupial (5,5%) e cinco amostras de carrapato (4,2%) mostraram positividade em testes de PCR para Ehrlichia sp., e quatro amostras de pulgas e três de carrapato foram positivas para Rickettsia spp., todas as amostras testadas foram negativas para Coxiella spp. As análises de sequenciamento e Blast mostraram 100% de identidade com E. canis em seqüências obtidas do gene dsb em amostras de sangue de cão e R. sanguineus s.l., Ehrlichia sp. do gene dsb em amostras de sangue de marsupial, Rickettsia felis do gene glta em quatro amostras de C. felis felis, "Candidatus Rickettsia andeanae" do gene glta em duas amostras de A. parvum e R. amblyommatis do gene glta em uma amostra de A. auricularium. O presente trabalho confirma a circulação dos agentes investigados na região estudada, relatando de forma inédita a presença de um marsupial silvestre infectado por Ehrlichia sp., sendo necessário novos estudos para gerar conhecimento sobre a epidemiologia dos agentes na região.