Esta pesquisa buscou compreender como as crianças quilombolas de Sambaíba, município de
Caetité/BA- Brasil, constroem suas identidades a partir da representação que têm de si
mesmas, formada no cotidiano familiar, na comunidade e nos espaços escolar, de modo a
fortalecê-las, ou não, para o enfrentamento da segregação social imposta a elas fora do
quilombo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com base etnográfica, na qual se procurou
ampliar a compreensão das diversas expressões culturais das crianças, construídas nas
interações com seus pares e entre elas e os adultos no território. Pode-se afirmar que, nessas
interações, as crianças são agentes de culturas infantis singulares à Sambaíba, considerando
que são nos espaços livres de seu território, dos quais se apropriam, que suas identidades são
construídas. O referencial teórico sustentou-se nos estudos sobre etnografia, culturas,
comunidade quilombola, infâncias, educação quilombola e identidades. Além da observação e
da audição das crianças com anotações no caderno de campo, foram utilizados outros
instrumentos de pesquisa como a fotografia, a roda de conversa e as oficinas. Nestas
atividades, as crianças foram ouvidas sobre os sentidos/significados que atribuíram a seus
desenhos; recortes de imagens de revistas; registros fotográficos feitos por elas e suas
produções textuais, o que possibilitou uma descrição densa e interpretativa das dinâmicas
desta infância. Compreende-se que identidades são construídas nas relações estabelecidas
socialmente, por esta razão, também foi necessário compreender, que convivem com elas,
dentro e fora do quilombo, pensam sobre essas crianças. Para tanto, foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com alguns pais, avós, membros da comunidade e profissionais
das duas escolas. Os resultados obtidos, na análise dos dados, apontam para dificuldades de
relacionamento entre as crianças do quilombo e as outras com as quais se relacionam fora da
comunidade, assim como entre elas e os docentes dentro e fora de seu território. Outra
constatação foi a de que as crianças quilombolas, também, usam de expressões
preconceituosas para ofenderem-se umas as outras, em momento de enfrentamento, resultado
de uma educação forjada pelo pensamento eurocêntrico, colonizador, intolerante e racista com
a qual vêm sendo formadas na escola. Os professores, embora apresentem o discurso de
promoção da igualdade racial, na prática, demonstram que não foram preparados para
enfrentar essas situações cotidianas de discriminação, separação, espoliação e marginalização,
porque foram formados por essa mesma escola de segregação. Destarte, agem de modo a
reforçar tais situações.