Introdução: O linfoma de Hodgkin clássico é uma doença curável na maioria dos casos, porém aproximadamente 25% dos pacientes apresentam doença refratária ou recidivada com alto índice de letalidade. O microambiente tumoral é composto de apenas 1 a 5% de células neoplásicas, denominadas células de Reed-Sternberg (RS), sendo todo o restante composto por células inflamatórias normais. A razão da falta de uma resposta imune eficaz contra o tumor permanece desconhecida. Este desequilíbrio imunológico reflete não somente no microambiente tumoral mas também no estado anérgico característico do paciente com linfoma de Hodgkin clássico (LHc). Portanto, o melhor entendimento desta complexa rede de interações celulares envolvidas na resposta imune pode contribuir para o desenvolvimento de novos biomarcadores e potenciais alvos terapêuticos. Objetivos: Este projeto teve como objetivo avaliar a expressão gênica de RNAs mensageiros associados ao perfil imune no sangue periférico de pacientes com linfoma de Hodgkin clássico. Correlacionar a presença do vírus Epstein-Barr nas células de RS com a expressão de RNAs mensageiros no sangue periférico. Correlacionar a expressão de RNAs mensageiros com as características clínicas e laboratoriais. Avaliar o impacto do tratamento na expressão dos RNAs mensageiros relacionados ao perfil imune. Correlacionar a expressão de RNAs mensageiros no sangue periférico de pacientes com LHc com as vias canônicas e redes gênicas. Validar a expressão de RNAs mensageiros através da dosagem de proteínas solúveis no soro dos pacientes com LHc. Casuística e método: Foram recrutados para este estudo, prospectivamente, 27 pacientes entre Outubro de 2011 a Outubro de 2015, em dois serviços de Hematologia distintos de São Paulo: Universidade Federal de São Paulo e Hospital Santa Marcelina. Foram incluídos, também, 10 controles saudáveis recrutados no banco de sangue do Hemocentro da UNIFESP após serem aprovados para doação. Amostras de sangue periférico foram coletadas ao diagnóstico e 90 a 180 dias após o tratamento. A expressão gênica de 96 RNAs mensageiros envolvidos na resposta imune foi realizada por PCR quantitativo em tempo real customizado (TaqMan® Low Density Array). As proteínas solúveis foram dosadas pelo teste imunoenzimático (ELISA). Resultados: Dos 27 pacientes recrutados neste período, 19 pacientes com linfoma de Hodgkin clássico estadiamento avançado foram avaliados, a mediana de idade ao diagnóstico foi de 29 anos e 63% eram do sexo masculino. Com relação ao EBV, 26% dos pacientes eram LHc EBV-relacionados. Pacientes com maior
expressão de IL-2, IL-7 e IL-23A foram associados com a presença de EBV (p=0,040; p=0,054; p=0,040 respectivamente). Observamos aumento na expressão de CD274 (PD-L1) (2 vezes - p=0,011), CD28 (1,5 vezes - p=0,049), CTLA-4 (1,6 vezes – p=0,005), FAS (1,5 vezes – p=0,025), ICOS (2,3 vezes – p=0,004), IL-10 (3 vezes – p=0,003) e CASP1 (1,5 vezes – p=0,042), nas amostras ao diagnóstico quando comparadas ao final do tratamento. Comparado aos controles saudáveis, verificamos maior expressão de IL-10 (2,5 vezes - paj=0,009) nas amostras ao diagnóstico. Com relação a dosagem das proteínas solúveis, observamos que os pacientes com sintomas B (p=0,048), massa bulky (p=0,023), estadiamento avançado (p=0,048), VHS e albumina alterados (p=0,006; p=0,008 respectivamente) foram associados com níveis elevados de sPD-L1, que teve impacto na sobrevida global dos pacientes com LHc (p=0,0001). Níveis aumentados de sCTLA-4 foi relacionado com IPS de alto risco (p=0,013). Altos níveis de sPD-L1 foram observados ao diagnóstico quando comparados aos controles saudáveis (p=0,023). Após o tratamento os níveis de IL-10 (p=0,001), sPD-1 (p=0,006) e sPD-L1 (p=0,002) foram significantemente reduzidos. Contudo, comparando a dosagem de IL-10 após o tratamento com os controles saudáveis os níveis persistiram elevados (p=0,0003). Conclusão: Este estudo demonstra que há um aumento na expressão de genes com características anti-inflamatórias e imunossupressoras nos pacientes com LHc ao diagnóstico. Nosso estudo também mostrou que a presença de EBV estava relacionada com a expressão de citocinas pro-inflamatórias (IL-2, IL-7 e IL-23A). Houve correlação do sPD-L1 com a presença de sintomas B, estadiamento avançado, presença de massa torácica bulky, VHS aumentado e albumina diminuída, e associação de sCTLA-4 com IPS de alto risco. O tratamento teve impacto positivo sobre a expressão de genes, com uma modificação para maior expressão de genes que podem estar relacionados com a reconstituição imune. Certamente, mais estudos investigando o impacto dos mecanismos de evasão imune das células de RS e a contribuição do microambiente inflamatório na evolução clínica do paciente com LHc contribuirá para um melhor entendimento da anergia característica destes pacientes e para o possível desenvolvimento de novos biomarcadores e estratégias terapêuticas.