Este trabalho avaliou a utilização de alimentos tropicais tradicionais e alternativos na
alimentação de cordeiros, através de cinco experimentos. Os alimentos em estudo foram
divididos em: alimentos energéticos (melaço em pó, farinha de mandioca, fubá de milho
e farelo de trigo), alimentos proteicos (torta de algodão com caroço, farelo de glúten de
milho, farelo de mamona e farelo de soja), alimentos alternativos (farelo de vagem de
algaroba, farelo de casquinha de cacau, torta de dendê e farelo de sementes e casca de
maracujá), e alimentos volumosos (feno de alfafa, braquiária peletizada, silagem de
milho e feno transvala). O primeiro experimento avaliou a efetiva degradabilidade de
todos os alimentos em estudo, na digestão de cordeiros. Para isso, foram realizadas
avaliações in vitro de degradabilidade na matéria seca (MS) e da fibra em detergente
neutro (FDN), além da avaliação da cinética de produção de gases também in vitro.
Identificou-se que entre os concentrados energéticos, a farinha de mandioca e o melaço
em pó apresentaram maior aproveitamento dos nutrientes, enquanto entre os
concentrados proteicos, o farelo de soja e o glúten de milho apresentaram maior
degradabilidade efetiva. Dos alimentos alternativos, o farelo de algaroba e o farelo de
cacau possuem maior potencial de uso para alimentação de cordeiros, e dos alimentos
volumosos, a silagem de milho apresentou maior degradação da matéria seca, ao mesmo
tempo em que o feno transvala apresentou maior aproveitamento das fibras na digestão
de cordeiros. No segundo, terceiro e quarto experimentos foram avaliados a composição
química dos alimentos em estudo e os efeitos da inclusão desses alimentos na dieta de
cordeiros sobre o consumo, digestibilidade dos nutrientes, produção de proteína
microbiana e síntese proteica. Nesses experimentos, também foram realizados a
predição das frações digestíveis e nutrientes digestíveis totais (NDT) de cada alimento.
No segundo experimento, referente aos alimentos energéticos, a farinha de mandioca
foi semelhante ao fubá milho no consumo dos nutrientes, nas frações digestíveis totais,
no balanço de nitrogênio e na eficiência microbiana. O melaço em pó e o farelo de trigo
apresentaram efeitos semelhantes ao fubá milho para a digestibilidade dos nutrientes,
digestão de nitrogênio, e, ainda, permitiram maior eficiência microbiana do que o fubá
milho. Observou-se que a farinha de mandioca, o melaço em pó e o farelo de trigo
proporcionaram aproveitamento dos nutrientes compatível ao fubá milho, podendo
substituí-lo em dietas para cordeiros, e a utilização desses alimentos é indicada em até
300 g/kg na MS em substituição de silagem de milho. No terceiro experimento,
referente aos alimentos proteicos, a torta de algodão foi o alimento no qual mais se aproximou do farelo de soja para o consumo e digestibilidade dos nutrientes, para as
frações digestíveis do NDT, para o balanço de nitrogênio e para a eficiência microbiana.
O farelo de glúten de milho foi semelhante ao farelo de soja no consumo e
digestibilidade dos nutrientes e balanço de nitrogênio, e inferior ao farelo de soja na
eficiência microbiana. O farelo de mamona apresentou efeitos semelhantes ao farelo de
soja, para o consumo dos nutrientes, para o balanço de nitrogênio e para a eficiência
microbiana, apresentando menor digestibilidade do NDT em relação ao farelo de soja.
Dessa forma, o farelo de soja, a torta de algodão, o farelo de glúten de milho e o farelo
de mamona proporcionaram aproveitamento dos nutrientes como concentrados
proteicos, e indica-se a utilização de até 100 g de farelo de soja em substituição à
silagem de milho, e até 300g torta de algodão, farelo de glúten de milho ou farelo de
mamona em substituição à silagem de milho na dieta para cordeiros. No quarto
experimento, referente aos alimentos alternativos, a algaroba e o maracujá
apresentaram maior aproveitamento dos nutrientes, e melhor balanço de nitrogênio,
como concentrado energético. O cacau revelou boa digestibilidade dos nutrientes. O
dendê tem aproveitamento limitado, devido à quantidade de lignina que dificulta o
consumo e a digestibilidade dos nutrientes ingeridos. Indica-se a utilização de até 100 g
desses alimentos alternativos, em substituição à silagem de milho em dieta para
cordeiros. O quinto experimento avaliou a utilização de equações de predição de
frações digestíveis totais e de energia, indicadas pelo BR-Corte (2016) e pelo NRC
(2001) para bovinos, na predição em dietas para cordeiros em condições tropicais.
Foram avaliadas as composições químicas e as frações digestíveis in vivo e valor
energético digestível in vivo dos dezesseis alimentos em estudo. Então, validou-se a
predição da digestibilidade dos nutrientes e do valor energético, por intermédio de
equações propostas pelo BR-Corte (2016) (abordagem meta-analítica) e pelo NRC
(2001), utilizando valores observados obtidos com um ensaio in vivo. Identificou-se que
as equações de predição propostas pelo BR-Corte (2016) e pelo NRC (2001), para
digestibilidade verdadeira de extrato etéreo (EEvd), digestibilidade verdadeira para
porteína bruta (PBvd), resultaram em dados não compatíveis aos dados observados in
vivo em cordeiros. Porém, as equações de predição de carboidratos não fibrosos
verdadeiramente digestíveis (CNFvd), e fibra em detergente neutro digestível (FDNd),
propostas no NRC (2001), proporcionaram melhor ajuste ao comparar as estimativas
aos valores coletados in vivo em cordeiros. Para as estimativas de nutrientes digestíveis
totais (NDT) e energia digestível (ED), as equações adotadas pelo BR-Corte (2016)
foram as mais precisas e exatas na avaliação do viés médio e do coeficiente de
correlação concordância. Dessa forma, indica-se a equação proposta pelo BR-Corte
(2016), por abordagem meta-analítica, para predizer o valor dos nutrientes digestíveis
totais e da energia de dietas para cordeiros.