Esta dissertação é fruto da história pessoal de seu autor, sobretudo no que tange ao seu envolvimento com o Movimento dos Sem Universidade, a participação no projeto Cursinho Popular na Periferia, desenvolvido por este movimento, e o engajamento na luta popular pelo direito ao ensino superior. Fruto dessa história justamente porque o tema inicial, o medo da universidade, surgiu em uma das atividades vinculadas ao referido projeto. No decorrer do mestrado, por diversas razões, o projeto sofreu várias alterações até se tornar um estudo sobre as trajetórias de estudantes em busca de seu lugar no ensino superior bem como sobre a construção coletiva dos caminhos que levam à universidade. Para tanto, realizamos uma revisão narrativa sobre barreiras e facilitadores presentes nas trajetórias de transição do ensino médio para o superior, traçadas, sobretudo, por estudantes pobres e oriundos de escolas públicas. Neste ponto buscamos trazer um panorama geral das variáveis presentes nessa transição e pretendemos entender a influência de diferentes espaços e grupos sociais, tais como família, trabalho, cursinhos populares e outros. Buscamos também resgatar a história de lutas populares que culminaram com a criação do campus Guarulhos da UNIFESP. Neste ponto, nos debruçamos sobre as atas das plenárias deliberativas do Orçamento Participativo (OP) do município de Guarulhos a fim de compreendermos como a construção da EFLCH se deu graças a mobilizações populares e às disputas nessas plenárias. Antes de iniciarmos a discussão sobre as barreiras e os incentivos presentes na transição do ensino médio para o ensino superior, traçamos uma análise comportamental sobre os determinantes para o desejo de se escolarizar e para o aumento do número de pessoas que manifestam este desejo. Considera-se que o estabelecimento do diploma educacional como critério para inserção no mercado de trabalho é uma das causas. Outra está também na relação da escolarização com o mercado de trabalho. Trata-se da privação do nível de escolarização mínimo exigido pelos empregadores. Uma terceira causa é encontrada no fato de que uma maior quantidade de potenciais estímulos reforçadores se torna disponível à medida em que o sujeito adquire mais diplomas. Por último, as análises indicam que escolarizar-se é uma forma de evitar um grande conjunto de estimulação
aversiva, a qual seria dispensada a quem não se escolariza. Uma vez compreendidas estas causas, passamos para a discussão sobre as barreiras que surgem na transição do ensino médio para o ensino superior, além das estratégias de enfrentamento e superação destas barreiras. Percebe-se que há um conjunto amplo e variado de barreiras que atingem a grupos e indivíduos. Estas estão presentes, sobretudo, nos contextos educacional, familiar, trabalhista e afetivo. Nota-se, também, que as melhores formas de combate destas barreiras estão nas ações coletivas, das quais os cursinhos pré-vestibular populares são um forte e significativo exemplo. Além destas, destacam-se: o apoio, de afetivo a financeiro, de familiares, amigos e outros; e o fato de que a escolarização é vista pelos estudantes como uma forma de melhorar sua situação de vida, a qual, comumente, é interpretada por eles como ruim. O capítulo final desta dissertação traz um panorama detalhado sobre o OP de Guarulhos no período de 2001 a 2007 e, em seguida, a análise de vinte atas de plenárias deliberativas realizadas em 17 regiões diferentes ao longo deste período. Todas estas atas foram selecionadas porque em suas respectivas plenárias foi apresentada a demanda pela criação de uma universidade pública no município de Guarulhos. Não foram analisadas atas de plenárias realizadas em anos anteriores a 2001, pois não obtivemos acesso a este material. O ano final do nosso período de análise, 2007, foi determinado pelo fato de que a criação da EFLCH se deu neste ano. A análise das atas revelou que a demanda pela criação de uma universidade ou faculdade municipal em Guarulhos apareceu com cada vez mais frequência atingindo seu pico no ciclo 2005-2007 do OP, quando foi levantada por 10 das 22 regiões da cidade. Ao longo de todo o período analisado, essa reivindicação se fez presente em mais de 300 bairros, cobrindo mais da metade da extensão territorial do município. Dentre os temas eleitos como prioritários para as regiões e para a cidade, infraestrutura foi o primeiro colocado na maioria das 20 atas analisadas. Educação, tema que, quase sempre, envolvia a demanda por universidade pública em Guarulhos, ocupou da segunda à quinta posição na maioria das votações. Por fim, a análise das atas nos permitiu constatar que a questão da criação de uma IES pública em Guarulhos foi bandeira de uma luta popular organizada por toda a cidade. Luta essa que está inserida em um contexto de lutas nacionais e locais pelo direito ao ensino superior. Por fim, consideramos ter demonstrado que as ações coletivas são mais efetivas na construção de caminhos que levam à universidade.