O rio Amazonas e seus afluentes sofrem intensa influência de maré, associada ao seu baixo relevo e apesar da gigantesca vazão fluvial, caracterizando seus baixo-cursos como Rios com Maré. As variações no nível de água, tanto no Amazonas, quanto nos tributários do baixo curso, como é o caso do rio Xingu, refletem não somente a grande variação sazonal de nível e vazão, mas também das marés semidiurnas que alcançam pelo menos 800 km a montante. Nesse contexto, este trabalho apresenta estudo da hidrodinâmica e transporte de sedimentos na área de confluência do rio Xingu com o rio Amazonas, associados à morfologia da ria fluvial, bem como do comportamento das variáveis hidrológicas. Os dados utilizados na elaboração do presente trabalho foram coletados em três campanhas amostrais, durantes período de alta descarga sólida e enchente do rio Amazonas (Fevereiro de 2016), de baixa descarga líquida e sólida (Novembro do mesmo ano) e por fim no período de alta descarga líquida (Junho de 2018), todos em marés de sizígia. Quanto a propagação da maré, este trabalho comprovou que nos três períodos existe efetiva variação de maré na confluência do rio Xingu com o rio Amazonas, e que esta atinge uma distância de pelo menos 162 km a montante, muito próximo do local de implantação da UHE de Belo Monte. Por outro lado, os resultados mostraram que a altura de maré é fortemente controlada, na confluência, pela vazão do rio Amazonas, onde esta atinge 1,23 m na vazão mínima, e 0,44 m na vazão máxima, com valor coerente de 1,02 m na situação intermediária. Os resultados também demonstram que já no interior da ria do Xingu, a propagação da maré é controlada pela área da seção transversal e suas variações. Os resultados de hidrodinâmica e transporte de sedimentos indicaram importantes fluxos a montante, além dos esperados fluxos a jusante do tributário rio Xingu no tronco principal do rio Amazonas. Esses fluxos foram da ordem de 287 toneladas por ciclo de maré no período de mínima vazão, 831 toneladas por ciclo de maré no período de enchente/máxima descarga de sedimentos do Amazonas, e 214 toneladas por ciclo de maré no período de cheia do rio. Não obstante, nos três casos a resultante calculada foi positiva, ficando em torno de 1600 toneladas por ciclo de maré nos períodos de enchente e cheia de rio, e apenas 100 toneladas por ciclo de maré no período de mínima vazão. Os resultados mostram ainda que potencialmente o transporte do rio Amazonas para o rio Xingu seria intenso durante todo o ano. Existe circulação tanto barotrópica quanto baroclínica. Durante os períodos de baixa vazão, a circulação barotrópica é particularmente intensa, enquanto que durante os períodos de alta vazão do Amazonas, a circulação baroclínica é intensificada. Em situações de enchente do rio, ambas forçantes são importantes. Uma vez que nesse período o Amazonas se encontra com uma maior carga de sedimentos, os fluxos são mais intensos nesse período. Os resultados de hidrodinâmica indicam ainda que a vazão do rio Xingu é o principal limitador do volume de sedimentos que pode ser transportado do rio Amazonas para o rio Xingu, o que indica que mudanças no regime hídrico do rio Xingu a jusante da UHE de Belo Monte, em função desta, é extremamente crítica para a confluência Amazonas/Xingu, especialmente no período de baixa vazão. Acredita-se que este trabalho representa uma importante contribuição para o entendimento da dinâmica e transporte no Rio com maré do Amazonas e Xingu.