Esta dissertação intitulada “Construção social da paternidade participativa:
(des)naturalização do lugar do homem e da mulher na reprodução das relações
sociais”, objetivou analisar e compreender esta construção social, a partir das
relações patriarcais de gênero, na esfera da produção e da reprodução social
capitalistas, identificando suas determinações, contradições e configurações na
sociedade contemporânea. A elaboração deste trabalho foi precedida de um
estudo qualitativo. Optou-se por se revestir do método materialista históricodialético de análise, desde os aspectos mais práticos, referentes à coleta e
análise dos fatos, até aos aspectos teóricos. O estudo contou com oito
participantes: quatro homens; quatro mulheres, duas na condição de mãe e duas
na condição de filhas. Para esta análise, nos referenciaremos nas ideias de
autores que colaboram para aclarar o fato de que, quando se reflete em relação
aos papéis femininos e masculinos na sociedade, não se está colocando em
oposição homens e mulheres, mas sim, aprofundando a necessidade de
“desnaturalizar” a supremacia do gênero masculino sobre o feminino, indo na
direção de uma igualdade política e social, o que inclui não somente o gênero,
mas também as dimensões de classe e de raça/etnia, o reconhecendo alinhado
ao conceito das relações sociais de sexo, pautadas na hierarquia de poder,
oriundas do patriarcado, bem como as definições de masculinidades, construídas
socialmente, estando em permanente duelo com a chamada masculinidade
hegemônica. Destacamos alguns aspectos da família, enquanto uma importante
categoria da vida social, que se reestrutura no movimento do mundo material e,
nele, se assenta. As entrevistas ajudaram a explicitar, sob a perspectiva das
relações patriarcais de gênero, a forma como os sujeitos interagem com os filhos
e sua rede sociofamiliar, mostrando-se num patamar de equidade interrelacional. Os resultados revelam que, para este grupo de sujeitos, não
prevalece a concepção, sobre a reprodução social, associada apenas à mulher,
sendo entendimento que esta dimensão deva ser compartilhada, no entanto, isso
é visto como excentricidade, sendo cercado de maior cuidado e expectativa, por
pessoas que insistem em “supervisionar” suas atividades. O direito à convivência
familiar e comunitária, que inscreve-se na ideia de que os filhos/as tenham suas
necessidades satisfeitas para poderem desenvolver-se, sendo esta
responsabilidade entendida como pertencente isonomicamente a mães e pais,
bem como a todos os seus cuidadores e, o conjunto da sociedade também tem o
dever de promover esta convivência. A ideia que marcou o estudo foi pensar a
paternidade participativa, enquanto possibilidade de contribuição, ainda que de
forma germinal, na eliminação de privilégios e racismos, concretizando relações
horizontais e equânimes de gênero, com respeito à diversidade, ainda que isso
não seja a emancipação humana, mas pode ser o início de uma trajetória
teleológica na construção de uma nova ordem societária, através da
radicalização da democracia e da luta por liberdade, equidade e autonomia.