Partindo do “Eu”, esta tese busca avaliar o funcionamento da mente humana enquanto um conjunto de ilusões fundamentais para nosso cotidiano e para toda a produção de conhecimento, tanto em termos de imagens que são ferramentas usadas para nos orientarmos no mundo, quanto em termos de produções culturais parasitárias que inflam as imagens com as quais nos identificamos para além de seus usos naturais. Para isso, diferentes narrativas são apresentadas sob a forma de capítulos, oferecendo perspectivas alternativas para os mesmos problemas. Variadas disciplinas e uma multiplicidade significativa de referências são mobilizadas não apenas para permitir esses deslocamentos visuais e imaginativos, mas para apontar também uma característica intrínseca de todo processo criativo: o rearranjo de recursos que temos disponíveis, eventualmente marcado por uma assinatura singular quando esse processo resulta em um produto concreto. Esse rearranjo, frequentemente realizado de maneira não-consciente, e constantemente mascarado por um Eu-Criador que nos serve como uma imagem unificada do que somos enquanto seres dotados de criatividade, acaba sendo traduzido como uma coleção de ideias próprias, remetendo a um Eu-Autor responsável por nos iludir quanto à proveniência do que criamos, de modo que eventualmente pensamos os processos criativos que circulam por nossas mentes como algo que possuímos, como algo pertencente a um Eu-Proprietário. O objetivo desta tese é argumentar que, embora essas três funções transcendentais do Eu sejam aparentemente inofensivas, seu poder ilusório é eventualmente voltado para fins diversos quando um imaginário social vinculado a uma cultura específica nos fornece certas imagens a serem incorporadas à constelação imaginária que chamamos de “Eu”. Por isso, esta tese também visa uma análise da constituição de imaginários e das possibilidades de rompermos com as fronteiras do impossível e do necessário em direção a outras formas de vida que nos permitam lidar melhor com as imagens do que somos, reconhecendo que elas servem a fins de navegação pelo mundo da experiência e não são retratos de qualquer essência. Por fim, a tese resulta em considerações sobre os usos da linguagem na Filosofia e a sua relação com o que podemos chamar de “imaginário filosófico”.