Introdução: O microambiente da medula óssea é um complexo milieu de
diversos tipos de células estromais e hematopoéticas envolvidas na autorenovação
e diferenciação das células-tronco e progenitoras hematopoéticas
(HSPC). Vários fatores solúveis e ligados à membrana produzidos pelas
células endoteliais (EC) e pelo estroma perivascular constituem sinais cruciais
para manter a quiescência e facilitar o retorno à homeostase após
quimioterapia mieloablativa. Além disso, vários trabalhos demonstram uma
relação entre HSPCs e ECs, apontando atividade hemangioblástica às HSPCs,
tanto na geração das células como dos vasos sanguíneos. Considerando as
relações entre HSPCs e ECs na medula óssea, é possível implicar as ECs no
estabelecimento e progressão de HSPCs malignas como as leucemias
mieloides aguda e crônica. De fato, nas leucemias, estudos demonstram que a
angiogênese também contribui para sua patogênese, havendo um aumento na
vascularização da medula óssea, associado a níveis elevados de fatores
angiogênicos. Desta forma, as estratégias terapêuticas que visam inibir o
processo angiogênico podem auxiliar o tratamento da leucemia. Objetivo: este
estudo tem como objetivo investigar o efeito anti-angiogênico da violaceína em
sistemas de co-cultura de células endoteliais de aorta de coelho (RAEC) e
células leucêmicas das linhagens K562 e Lucena-1 (K562 com fenótipo MDR-
1). Resultados: Observou-se que a violaceína, em concentrações inferiores ao
seu IC50, é capaz de inibir a formação de tubo capilar, a proliferação, migração
e invasão de ECs, sendo o IC50 das células RAEC (5,0 μM) superior ao IC50
das células leucêmicas (3,5 μM). Quando as células RAEC foram co-cultivadas
com células de leucemia em contato direto, na presença de insertos ou com o
meio condicionado das células leucêmicas, observou-se um aumento na
proliferação, formação capilar, migração e invasão das células RAEC. Além
disso, o aumento nestes parâmetros foi maior em co-culturas com a linhagem
Lucena-1. Em contrapartida, o pré-tratamento das células leucêmicas com
violaceína reduziu significativamente estes efeitos, com inibição das vias
VEGFR2/PI3K/AKT e VEGFR2/Src/MAPK nas linhagens estudadas (ECs e
leucemias). Em conjunto, os resultados obtidos apontam a importância de
fatores solúveis na modulação dos eventos associados ao processo
xii
angiogênico e demonstram o potencial anti-angiogênico da violaceína com
ação em vias importantes de regulação da angiogênese e proliferação celular.