Este trabalho objetiva compreender como os cursinhos populares contribuem na formação de seus estudantes, para além dos conteúdos cobrados nos exames de seleção para o ensino superior. Dessa forma, apoiada teoricamente nos conceitos de Bourdieu a respeito do capital cultural e do capital social, assim como estudos que tratam sobre a realidade dos cursinhos populares, a presente pesquisa investigou como essas contribuições são construídas no cotidiano escolar do cursinho Equalizar, localizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na cidade de Belo Horizonte. Como procedimentos da pesquisa, foram realizados questionários, observações e entrevistas. Os questionários foram aplicados aos estudantes do cursinho, a fim de conhecer e traçar algumas de suas características gerais, como situação socioeconômica familiar, trajetória escolar e conhecimentos a respeito dos processos de seleção para o ensino superior. Já as entrevistas, foram feitas com o presidente do cursinho, com quatro professores, com duas integrantes do Núcleo Psicopedagógico (Nap) e com cinco estudantes. Além disso, foram feitas observações durante algumas aulas para que fosse possível conhecer a realidade cotidiana do cursinho. As contribuições identificadas, podem ser divididas em dois aspectos, um relativo diretamente aos processos de seleção ao ensino superior e outro, referente a uma formação mais ampla. No que concerne aos processos de seleção ao ensino superior, além de auxiliar com transmissão de conteúdo, o cursinho auxilia os estudantes na escolha de cursos e estratégias diante dos processos seletivos. Além disso, os estudantes têm a oportunidade de contato com a UFMG e com suas diversas atividades, antes mesmo do ingresso no ensino superior, o que depois, pode auxiliá-los na vida universitária. Outra contribuição apontada na pesquisa, diz respeito à autonomia construída pelos estudantes quanto aos estudos e a relação de amizade construída entre professores e alunos. No tocante a formação mais ampla, um ponto de destaque é a construção de uma “rede de solidariedade”, uma vez que o cursinho, sendo construído por meio de voluntariado, desperta nos estudantes a vontade de também contribuir em alguma atividade do tipo, inclusive com a possibilidade de participarem do Equalizar em um momento posterior. Outrossim, o cursinho tem a preocupação de trabalhar a questão da autoconfiança, da autoestima e da ansiedade, preparando os alunos, não apenas para as provas, mas para a vida como um todo. Dessa forma, além de ampliar o capital cultural e social dos estudantes, o Equalizar atua em aspectos que, mesmo não sendo principais para a execução dos exames, não só auxiliam no momento da seleção, mas também, constituem um diferencial na contribuição da permanência desses estudantes de camadas populares no ensino superior.