Ansiedade, clima de trabalho, hierarquia, discussões sobre temas sensíveis, desonestidade, qualidade de produção intelectual. Todos esses temas, isoladamente, são objeto de profunda reflexão filosófica e estudo científico. No entanto, nenhum estudo no mundo, até hoje, analisou as relações entre todos esses temas. Nenhum estudo, além disso, analisou essas relações em um contexto experimental, controlado. Nenhum estudo, também, verificou possíveis correlatos neurais associados a essas relações. Justamente pelo caráter inovador e pela relevância social do estudo de tais relações, decidimos desenvolver um novo paradigma experimental. Com o advento da internet e das mídias sócias, vivemos em um mundo onde temas sensíveis são discutidos por milhões de pessoas ao redor do planeta. No contexto desses debates coletivos, não se sabe os efeitos de diferentes estruturas hierárquicas de trabalho sobre o processo de chegada a um consenso em relação a temas sensíveis/difíceis. Nosso modelo experimental analisou o comportamento de grupos (e seus desfechos) enquanto tais grupos discutiam e chegavam a consensos sobre temas sensíveis/difíceis. No primeiro experimento, participantes (n=155) foram aleatoriamente alocados em grupos hierárquicos (n=4) e não-hierárquicos (n=4). Os grupos se reuniram 5 vezes ao longo de 5 semanas para discutir temas previamente eleitos como sensíveis/difíceis por uma amostra dos participantes. Clima de trabalho e humor foram medidos em todas as reuniões. Os grupos produziram relatórios em cada uma das discussões, e também um artigo final, em texto, contendo o consenso do grupo. Realizamos uma checagem de plágio nesses relatórios e artigos finais, cujo resultado foi adotado como nossa medida de desonestidade. Um grupo de 10 juízes independentes, de diferentes campos científicos, avaliou a qualidade dos artigos finais. Os resultados demonstraram que os escores de clima de trabalho e humor foram significativamente inferiores nos grupos hierárquicos, em relação aos não-hierárquicos. Os grupos hierárquicos, entretanto, produziram trabalhos de maior qualidade – mas também apresentaram comportamento mais desonesto, medido pelo maior índice de plágio. No segundo experimento, participantes (n=93) foram aleatoriamente alocados em grupos hierárquicos (n=7) e não-hierárquicos (n=7), e se reuniram 4 vezes ao longo de 4 semanas para discutir temas sensíveis/difíceis previamente eleitos entre eles. As mesmas medidas de clima de trabalho e humor foram utilizadas. Adicionalmente, foram medidos sintomas de ansiedade antes e
depois do experimento, de acordo com o Inventário Beck de Ansiedade. Os resultados demonstraram efeitos semelhantes sobre clima de trabalho e humor. Os grupos hierárquicos apresentaram, também, aumento significativo de sintomas de ansiedade após o experimento, em comparação a antes. Esse efeito de ansiedade não foi observado nos grupos não-hierárquicos. Ao final do segundo experimento, uma amostra aleatória de participantes de grupos hierárquicos (n=9) e não-hierárquicos (n=9) participou de um Jogo do Ultimato, acreditando estar jogando com membros de seus grupos. Enquanto jogavam, a atividade cerebral dos participantes era monitorada através de Eletroencefalografia (EEG). Potenciais evocados relacionados a eventos foram medidos para as diferentes ofertas de cada proponente. Os resultados demonstraram maior Negatividade Medial Frontal quando participantes do grupo hierárquico receberam ofertas de proponentes hierarquicamente superiores, em relação a ofertas de proponentes de mesmo nível hierárquico. Esse efeito não foi observado nos jogadores vindos de grupos não hierárquicos. Em estudos anteriores, a MFN está associada a quebras negativas de expectativas e a respostas afetivas negativas perante injustiça.