Panorama: O diabetes mellitus é uma das maiores emergências de saúde do século
XXI, devido ao crescente número de pessoas que vivem com esta condição,
chegando a assumir proporções epidêmicas na maioria dos países, independente do
seu grau de desenvolvimento. Entre os cinco países com maior número de pessoas
com diabetes mellitus, o Brasil ocupa o 4º lugar com 12,5 milhões de pessoas na
faixa etária de 20 a 79 anos. Denomina-se síndrome do pé diabético os casos de
ulceração e ou destruição dos tecidos dos pés, com ou sem infecção, associados à
neuropatia e ou doença arterial periférica na extremidade inferior das pessoas com
diabetes – condição fortemente relacionada à perda da qualidade de vida dos
pacientes. Objetivo: Com o objetivo de determinar a frequência de fatores de risco
relacionados às complicações em membros inferiores de pacientes com diabetes no
município de Três Lagoas (MS), e investigar suas associações com fatores
sóciodemográficos e clínicos como forma de fornecer bases para futuras politicas
públicas locais, o presente estudo (de caráter exploratório, transversal e
correlacional) foi desenvolvido. Método: A amostra constituiu-se de 335 pacientes,
usuários de nove unidades de Estratégia de Saúde da Família presentes no
município. Uma ampla gama de dados sóciodemográficos e clínicos individuais
foram coletados, e uma avaliação minuciosa do risco para a síndrome do pé
diabético foi realizada em cada paciente. Posteriormente, correlações entre as
variáveis sociodemográficas e os riscos para a síndrome foram traçadas por meio de
testes estatísticos adequados aos dados. Resultados: Os resultados caracterizaram
uma população predominantemente feminina, em média com 62 anos, usualmente
brancas e pardas, em sua maioria casada, com renda de 1 a 3 salários mínimos,
com tempo médio de diagnóstico de DM de aproximadamente 10 anos e com um
escore médio de 10 pontos para risco de lesões nos pés (máximo de 56). A maioria
não soube identificar com qual tipo de DM foi diagnosticado, uma quantidade
significativa (37,91%) de pessoas não faz exames para acompanhar a glicemia, a
maioria (93,73%) nunca tiveram seus pés examinados por nenhum profissional de
saúde. A glicemia média dos pacientes se mostrou bastante elevada, em média
204,90 mg/dL. Os testes de avaliação neuropática e de vasculopatias demonstraram
que a maioria dos pacientes se encontra dentro da normalidade. Por fim, diversas correlações positivas foram reveladas entre risco para a síndrome do pé diabético e
fatores sociodemográficos e clínicos locais. Conclusões: O panorama da presença
de fatores de risco para a síndrome do pé diabético nos pacientes estudados não é
demasiadamente severo – não acometendo a maior parcela da população. Os
fatores de risco estiveram associados principalmente à idade, sexo, obesidade,
hipertensão arterial e cuidados básicos com os pés inadequados. Além de traçar o
perfil populacional local relacionado ao risco para a síndrome do pé diabético, esses
resultados apontam para a importância do reforço de políticas públicas voltadas à
atenção primária à saúde, com foco na prevenção e educação.