A dependência de drogas na cena contemporânea tem se mostrado um importante problema de saúde pública e desafiado famílias e governos no seu manejo. Neste bojo, as internações compulsórias (judiciais), enquanto modalidade de tratamento, emergem como uma questão complexa, de modo que o uso abusivo de substâncias psicoativas além de gerar sofrimento aos sistemas familiares, envolve imprevisibilidades, intersubjetividades e recursividades, transcendendo verdades absolutas, soluções verticais e lineares. Ao analisar a literatura, percebeu-se uma lacuna em estudos sobre familiares na lida cotidiana com a problemática em tela. Assim, o presente estudo objetivou delinear o perfil, compreender expectativas, necessidades e percurso de familiares que buscam internação compulsória para membros usuários de drogas. Trata-se de uma pesquisa de Método Misto. Os dados foram coletados em duas etapas, sendo que na primeira, quantitativa, envolvendo análise dos prontuários eletrônicos e manuais. Na segunda fase, qualitativa, os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, a partir de seleção aleatória de onze famílias com a seguinte questão norteadora: “O que fez vocês procurarem a Defensoria Pública e quais eram as suas expectativas e necessidades no atendimento? ”. Os dados quantitativos foram analisados por meio de apoio do Software estatístico - versão 22.0 Statistical Package for the Social Sciences, já os qualitativos, após transcritos, utilizou-se análise de conteúdo, embasando-se na apreciação temática ou categorial. A amostra caracterizou-se predominantemente por mulheres casadas, mães dos usuários, com ensino fundamental, residentes em territórios vulneráveis, sob forte influência do tráfico de drogas, em casas próprias com infraestrutura mínima. Detectou-se ainda que a maioria dos usuários tem histórico de uso de drogas na família, bem como já passou por outras modalidades de tratamento como Centros de Atenção Psicossocial e Comunidades Terapêuticas. Observaram-se associações significativas entre a solicitação da internação e a presença de agressividade, e ainda, alguns comportamentos típicos do uso nocivo de drogas como engatilhadores do pedido de internação compulsória, tais como situação de rua e envolvimento em atividades delituosas. Após a análise das entrevistas, os dados foram organizados segundo o método de análise proposto, dando origem as seguintes categorias: a difícil convivência com o usuário; percurso dos familiares para trazer o usuário „de volta à vida; expectativas e necessidades dos familiares em relação à internação compulsória. Os dados facilitaram ampliação do olhar sobre o tema de forma mais sensível podendo contribuir para a integralidade no atendimento aos sujeitos demandatários das políticas sobre drogas onde encontra-se a necessidade de incluir os familiares na participação do cuidado ao usuário. A partir de tal estudo foi possível ampliar o olhar do profissional de saúde para a complexidade e intersubjetividade deste segmento.