O que explica a habilidade cognitiva superior humana, quando comparada à de outros mamíferos com encéfalos maiores, tais como cetáceos?
O nosso grupo trabalha com a hipótese de que independentemente do tamanho do encéfalo, é o número de neurônios no córtex cerebral o principal fator determinante da capacidade cognitiva de uma espécie. Por isso, aqui testamos a hipótese de que encéfalos de cetáceos, mesmo aqueles duas vezes maiores do que o humano, ainda assim teriam menos neurônios do que este, no córtex cerebral. Verificamos, ainda, se este número se encaixa no previsto anteriormente para a ordem Cetartiodactyla, à qual pertencem as baleias. Se baleias seguem as mesmas regras de composição neuronal que se aplicam a artiodáctilos, então o córtex cerebral das baleias deveria ser formado de algo em torno de 3 bilhões de neurônios, contra uma média de 16 bilhões de neurônios no córtex cerebral humano.
Aqui nós investigamos a composição celular do encéfalo da baleia Minke (Balaenoptera acutorostrata) e da baleia-piloto-de-peitorais-curtas (Globicephala macrorhynchus), utilizando o método do fracionador isotrópico. Encontramos que o córtex da baleia Minke contém 3,1 bilhões de neurônios, como previsto para um artiodátilo de massa cortical similar. O córtex da baleia Minke portanto obedece às regras de composição celular encontradas em outros mamíferos não primatas, tendo muito menos neurônios em seu córtex quando comparado ao humano. Para a baleia-piloto-de-peitorais-curtas, porém, encontramos mais neurônios do que o esperado para um artiodáctilo de mesma massa cortical. São 11,8 bilhões de neurônios em 1,8 kg de córtex, muito acima dos 2,7 bilhões esperados.
Por outro lado, a relação entre a massa cortical e o número de células não-neuronais é compartilhada pelas duas baleias e por todos os outros mamíferos analisados até agora, com uma razão glia/neurônio elevada, mas esperada para suas densidades neuronais. Mesmo com o grande número de neurônios no córtex quando comparado às outras espécies analisadas, o menor número de neurônios corticais nesses cérebros maiores do que o humano dá suporte a nossa hipótese que de o número de neurônios no córtex cerebral, independentemente do tamanho de corpo ou cérebro, é o que melhor se relaciona com a capacidade cognitiva entre espécies.