Para avaliar as condições em que os animais são criados pode-se usar medidas fisiológicas, pois em condições de bem-estar empobrecido normalmente ocorre elevação na produção de glicocorticoides produzidos pelas glândulas adrenais que posteriormente são excretados nas fezes na forma de metabólitos. O incremento desses metabólitos, contudo, não é exclusivo de situações aversivas. Por isso, recomenda-se a análise de dados comportamentais para a interpretação mais correta das medidas hormonais. Por esses motivos, nesse estudo foi testada a hipótese de que é possível monitorar a atividade da glândula adrenal de paca (Cuniculus paca) por meio da concentração de metabólitos de glicocorticoides nas fezes (MGCF) e pela alteração na expressão de comportamentos da espécie. Testou-se também a hipótese que o estresse altera o consumo alimentar e o aproveitamento de nutrientes dos alimentos pela paca. Para esses fins, foram usados quatro machos adultos que, em delineamento em quadrado latino (4x4) e mantidos em gaiolas de metabolismo, foram submetidos ao teste de desafio do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) exógeno. Os quatro tratamentos utilizados foram: sem manejo; injeção de solução salina; injeção de ACTH baixo (0,18 mL ACTH) e injeção de ACTH alto (0,37 mL ACTH). Amostras de fezes e dos alimentos consumidos foram coletadas e analisadas para determinar os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes. Adicionalmente, foi medida a concentração de MGCF. Complementarmente, imagens dos animais foram gravadas continuamente para comparar as proporções de tempo gasta nos padrões comportamentais alimentar, exploratório, inativo, conforto e pacing em razão dos tratamentos e dias de observação. Por meio de ensaio imunoenzimático, usando anticorpo para cortisol, verificou-se um pico na concentração de MGCF, nas fezes coletadas no dia seguinte após aplicação do tratamento ACTH alto. Além disso, determinou-se a concentração média basal para MGCF em 36,0 (±11,7) ng/g de fezes secas, sem variação na excreção de MGCF ao longo das horas do dia. Durante o dia de aplicação dos tratamentos, as pacas foram observadas mais tempo inativas (60,1 ± 27,5%, P < 0.001) e menos tempo se alimentando (13.5 ± 19.0%, P < 0.001) em relação aos outros dias de observação (33,9 ± 21,9% e 39.4 ± 10.6%, respectivamente). Não se verificou, contudo, variação no consumo de MS digestibilidade de nutrientes (P > 0.05) entre os tratamentos. Mas observamos que todas as pacas consumiram uma quantidade inferior de N digestível ao recomendado para a espécies. Isso ocorreu, provavelmente, devido ao processo de empatia: animais que passaram por ambos os tratamentos controle (sem manejo e solução salina), apresentaram médias similares de consumo alimentar e digestibilidade dos nutrientes dos animais submetidos a estresse agudo causado pela injeção das duas doses de ACTH. Conclui-se que é possível usar a concentração de MGCF, utilizando EIA com anticorpo cortisol, para monitoramento não invasivo do estresse na paca. Pode-se usar também a proporção de tempo gasto em alimentação e inatividade, como indicadores de estresse para a paca.