O mosquito Ae. aegypti é o principal vetor de arboviroses para humanos,
no Brasil e o responsável por surtos de dengue, chikungunya, febre amarela, e
recentemente esteve envolvido no elevado numero de infectados com vírus zika.
O hábito hematofágico do Ae. aegypti permitiu que desenvolve-se inúmeras
estratégias de controle da hemostasia do seu hospedeiro vertebrado. Em 2010,
o nosso grupo expressou e caracterizou um inibidor de serinopeptidase da
família Kazal denominado de AaTI (Aedes aegypti Trypsin Inhibitor). O rAaTI
purificado foi capaz de inibir tripsina e afetar o tempo de coagulação. De posse
destes dados, o presente trabalho teve como objetivo geral determinar a
estrutura tridimensional do AaTI para entender o seu papel no prolongamento do
tempo de coagulação.
O rAaTI foi purificado em quantidade e uma preparação contendo 20
mg/mL do inibidor com alto grau de homogeneidade foi utilizado em
experimentos de cristalização. O rAaTI cristalizou em 100 mM acetato de sódio,
pH 5,5 contendo 25% PEG 3350; 5% PEG 400 and 3% dioxana. Alguns cristais
do inibidor foram mergulhados em soluções de iodeto de sódio com diferentes
concetrações (soaking), por 10 s a 1 min, em seguida os mesmos foram
analisados (difratados) na linha MX2 no laboratório Nacional de Luz Syncrotron (LNLS), Campinas. A estrutura tri-dimensional do rAaTI foi determinada em alta
resolução de 1.4 Å. A célula unitária do cristal apresentou um volume de solvente
incomum baixo de aproximadamente 22-23% (Torquato et al. 2017),
acomodando duas moléculas do rAaTI.
O rAaTI foi anteriormente descrito como inibidor de serinoprotease,
tripsina bovina ( Ki = 0,15 nM) e plasmina humana (Ki = 3,8 nM ), e com atividade
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anticoagulante, promovendo o prolongamento do tempo de coagulação,
incluindo o teste de tempo de trombina (TT) (Watanabe et al. 2010).
Na tentativa de esclarecer onde o rAaTI se liga na superfície da trombina,
alguns experimentos foram realizados usando a tecnologia “ SPR “ (do inglês –
surface plasmon resonance). A trombina foi imobilizada sobre a superfície do
sensor-chip CM5TM GE. Diferentes concentrações de rAaTI foram aplicadas a
superfície com a trombina imobilizada e uma constante de dissociação (KD) de
3,68 µM foi obtida. Watanabe e colaboradores mostraram um valor de KD = 320
nM (Watanabe et al. 2011). A constante de dissociação calculada por SPR é aproximadamente dez vezes maior, que pode ser explicado pelo bloqueado
parcial dos exositios I e II da trombina durante o procedimento de imobilização
da enzima. Os experimentos de SPR mostraram inibição da ligação de rAaTI a
trombina na presença da heparina, reforçando a sugestão de que o AaTI pode
se ligar ao exositio II da trombina.