Introdução: o estudo descreve o cenário epidemiológico do HIV e sífilis no maior centro de
referência para toxicodependência no Brasil. Este país é o país número um da violência,
tortura e morte de pessoas transexuais. O vício em cocaína é freqüente e contribui para a
extrema vulnerabilidade social e a exposição a riscos sexuais e relacionados à violência.
Métodos: Apresentamos nossos resultados de um estudo transversal focado na vulnerabilidade
social e nas infecções sexualmente transmissíveis entre usuários de cocaína de cracking
transgênero. Resultados: em nossa amostra, a prevalência do HIV foi maior (p <.0001) no
grupo transgênero (10%) do que nas mulheres e homens não transgêneros (6% e 3%,
respectivamente). As taxas de HIV e sífilis de 5,86% e 21,9%, respectivamente, foram
observadas. As mulheres tinham quase 2,5 vezes mais probabilidades de ter sífilis (OR: 2,44,
p = 0,001, IC 95%: 1,67-3,65). A infecção pelo HIV foi associada ao sexo desprotegido
(61,4%, OR: 3,27, p = 0,003 IC 95%: 1,51-7,11) e ideação suicida (33,6%, OR: 6,63, p =
0,001 IC 95%: 3,37-14,0). Injeção de drogas (2%, OR: 13,05, p = 0,01 IC 95%: 4,32-39,3) foi
associada com HIV e sífilis. O histórico de vida da infecção por sífilis, avaliado com o teste
treponêmico, foi maior em pessoas transgêneros (41,7%) e mulheres não transgênoras
(30,4%) do que em homens não transgêneros (10,5%). A sífilis ativa também foi mais comum
na população transgênera (OR: 5,96, p = 0,000, IC 95%: 3,26 10,88). Em nossa amostra, 48%
dos indivíduos transgêneros tiveram um episódio de tentativa de suicídio em sua vida. Nossos
resultados mostraram que a população transgênera feminina está em mais de duas vezes maior
risco de uso de cocaína crack (OR: 2,37 p = 0,002 IC 1,38, 4,10). Discussão e conclusão:
capacitar a população transgênera provavelmente melhora suas perspectivas de trabalho,
relações interpessoais e vida em geral. Um ambiente livre de preconceitos, como o "grupo da
diversidade", no qual o respeito pela diversidade, a promoção de programas culturais que
podem aumentar o repertório, redefinir os limites impostos anteriormente pela percepção de
discriminação e oferecer cuidados de saúde integrativos permitiram um melhor atendimento a
este população altamente vulnerável. Os fatores de risco ressaltados associados às ITS, tais
como ideação suicida, sexo desprotegido e injeção de drogas, devem ser levados em
consideração para a implementação de estratégias de prevenção específicas sobre o
diagnóstico e o tratamento precoce das infecções sexualmente transmissíveis para combater a
rápida disseminação do IST nesta população.