INTRODUÇÃO – As doenças inflamatórias intestinais (DIIs) correspondem a alterações morfofisiológicas que podem afetar o trato gastrointestinal, estes distúrbios representam grave problema de saúde mundial. Em condições de normalidade, a apoptose no epitélio intestinal deve ocorrer de forma bem regulada, no entanto, em excesso, ela pode desencadear um processo inflamatório elevando o estresse oxidativo. Além de provocar alterações teciduais distintas como a deposição descontrolada de fibras colágenas, alterações nos plexos entéricos que em conjunto podem levar a cronificação de um processo inflamatório desencadeando a surgimento das DIIs. As plantas são capazes de produzir muitas substâncias voláteis a partir de seus tecidos, entre essas destacamos a família dos jasmonatos, importantes reguladores celulares envolvidos em diversos processos de desenvolvimento, atuando nos mecanismos de defesa das plantas em resposta a lesões ocasionadas por insetos ou outros tipos de patógenos, ou ainda, por alterações ocasionadas por estresse ambiental. O metil jasmonato (MeJA) tem sido caracterizado como um regulador celular vital envolvido em alguns processos dinâmicos, ligados ao desenvolvimento de respostas atuantes na defesa contra estresses bióticos e abióticos, se apresentando seletivamente tóxico para as células cancerígenas, não afetando células normais, induzindo a apoptose por vários mecanismos, propriedade que favorece o seu desenvolvimento na terapêutica tanto para o câncer, quanto para outras doenças.
OBJETIVOS – O objetivo deste estudo foi caracterizar e elencar hipóteses relacionadas a prováveis aplicações do MeJA como um novo candidato para o tratamento das DIIs, apresentando possíveis mecanismos reguladores da morte celular, modulando a expressão das principais classes de famílias que atuam nas vias extrínsecas e intrínsecas do processo apoptótico bem como avaliar em modelo de colite experimental a resposta tecidual, o potencial anti-inflamatório, neuroprotetor e antioxidante do tratamento com jasmonatos, especificamente com MeJA isolado ou complexado com ciclodextrinas (HP-β-CD) no colo distal de ratos com colite quimicamente induzida por TNBS.
MÉTODOS – Para o artigo de revisão bibliográfica sistemática e quantitativa, foram consultados vários artigos científicos entre os anos de 2014 e 2017 utilizando as seguintes palavras-chaves: MeJA, antioxidante, anti-inflamatório, anti-câncer, apoptose, caspase. A revisão foi organizada nos seguintes tópicos: resumo, introdução, patogênese das principais DIIs: sintomas clínicos; mediadores inflamatórios e câncer coloretal; a família dos jasmonatos e o metil jasmonato; apoptose intestinal; MeJA: um potencial fito-hormônio para a terapia anti-TNF no tratamento de DIIs; MeJA: uma possível ação moduladora na produção de ROS e manutenção da apoptose intestinal e conclusão. O segundo artigo foi desenvolvido a partir do protocolo experimental aprovado pelo Comitê de Conduta Ética no uso de Animais em Experimentação da Universidade Estadual de Maringá (protocolo nº 074/2014). Foram utilizados 35 ratos Wistar com aproximadamente 90 dias de idade, distribuídos aleatoriamente em 5 grupos experimentais (n=7/grupo), discriminados de acordo com as soluções administradas e formas de tratamento, durante 28 dias. Para o estabelecimento da colite experimental e tratamento com MeJA, os animais receberam solução salina 0,9% ou solução TNBS/etanol via enema bem como tratamento diário via gavagem de MeJA (300 mg/kg) diluído em óleo de milho ou MeJA (300 mg/kg) complexado molecularmente com HP-β-CD. Os grupos experimentais foram distribuídos da seguinte forma CC: animais controle que receberam dose única de solução salina (0,9%) via enema e ausência de tratamento; CJ: animais controle que receberam dose única de solução salina (0,9%) via enema e tratados com doses diárias de MeJA; TN: animais que receberam dose única de TNBS via enema e ausência de tratamento; TJ: animais que receberam dose única de TNBS via enema e tratados com doses diárias de MeJA; TC: animais que receberam dose única de TNBS e tratados com doses diárias de MeJA complexado com HP-β-CD. Após 28 dias, os animais foram eutanasiados e coletado sangue para análise de marcadores de injúria hepática. Posteriormente foram laparatomizados sendo coletadas amostras do colo distal destinadas a avaliação estereomicroscópia, processamento histológico para avaliação tecidual e imunofluorescência para identificação dos neurônios mioentéricos nitrérgicos. Parte das amostras foram clampeadas e fixadas em nitrogênio líquido e armazenadas a temperatura de -80°C para análises de marcadores inflamatórios (MPO, NO, IL-2, IL-17), pró e antioxidantes (CAT, GPx, GSH, GSSG, ROS, TBARS, XO).
RESULTADOS E DISCUSSÃO – No modelo de colite proposto a instilação de TNBS por um período de 28 dias produziu inflamações na parede colônica gerando alterações morfoestruturais na arquitetura intestinal com características semelhantes as DIIs. A administração de MeJA na dose de escolha 300 mg/kg isolado ou complexado com CDs não induziu hepatotoxicidade nos animais. Os níveis expressos de MPO e IL-17 foram regulados negativamente e o nível de IL-2 foi regulado positivamente pelo MeJA isolado. Com relação à resposta tecidual, constatamos que o tratamento crônico com MeJA isolado impediu o desenvolvimento da fibrose colônica, pois manteve a área ocupada por fibras colágenas do tipo I e produção efetiva de fibras colágenas imaturas do tipo III, favorecendo o processo de reparo no tecido colônico. Verificamos também que administração de TNBS resultou em aumento no número da subpopulação mioentérica nitrérgica (nNOS) sem efeito do MeJA complexado. O tratamento com MeJA isolado demonstrou potencial em manter a densidade da subpopulação neuronal nitrérgica comparado ao grupos não inflamados, garantindo o funcionamento dos plexos mioentéricos, contribuindo para a neuroproteção do SNE. Comprovamos a ação do MeJA sobre o estado oxidativo no modelo de colite experimental em ratos. A lipoperoxidação lipídica (LP) foi três vezes menor em relação ao grupo sem tratamento após a administração de MeJA isolado ou complexado, o qual ainda diminuiu a atividade de xantina-oxidase XO nos animais colíticos os quais apresentaram resultados semelhantes ao grupo controle tratado com MeJA. O tratamento utilizando MeJA isolado demonstrou ação antioxidante mais eficiente que o MeJA complexado com CDs ao promover a redução de glutationa oxidada (GSSG) e incrementar os níveis de glutationa reduzida (GSH). O MeJA complexado apenas se mostrou mais eficiente que o MeJA isolado ao modular a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx). Com bases nestes resultados, o MeJA isolado apresenta-se como um novo alvo terapêutico para os tratamentos das DIIs. Os dados resultantes da revisão bibliográfica sistemática comprovam os resultados experimentais, pois o MeJA, apresenta possíveis mecanismos reguladores da morte celular, regulando a expressão das principais classes de famílias que atuam nas vias extrínsecas e intrínsecas do processo apoptótico, preservando as células que não normais, representando um nova alternativa referente nos processos de transdução de sinais importantes na renovação celular da mucosa intestinal, auxiliando no processo de ciclagem celular de células transformadas, por vias apoptóticas nas DIIs.
CONCLUSÕES – O MeJA representa um novo candidato para o tratamento das DIIs, apresentando possíveis mecanismos reguladores da morte celular, modulando a expressão das principais classes de famílias que atuam nas vias extrínsecas e intrínsecas do processo apoptótico, bem como apresenta comprovado potencial terapêutico na atividade antioxidante, anti-inflamatória, anti-fibrótica e neuroprotetora para o tratamento das doenças inflamatórias intestinais.