Introdução: Cateteres intravenosos periféricos (CIP) são amplamente utilizados na prática clínica para a realização da terapia intravenosa. Apesar de apresentarem inúmeras vantagens em relação a outros tipos de acesso intravascular, não estão isentos de gerar complicações, destacando-se neste estudo a flebite. Com o intuito de prevenir flebite, pratica-se, em grande parte das instituições de saúde, a remoção programada do CIP a cada 72 ou 96 horas. Objetivos: Verificar se a remoção do CIP mediante indicação clínica não é inferior à remoção programada a cada 96 horas quanto à ocorrência de flebite; comparar a gravidade da flebite, tempo de permanência do CIP e outras complicações de terapia intravenosa entre os grupos de estudo. Casuística e Método: Trata-se de um estudo clínico, randômico, controlado e de não inferioridade, que recrutou pacientes com idade igual ou maior de dezoito anos, de dois hospitais do município de São Paulo, após a aprovação do mérito ético e registro do estudo clínico, de novembro de 2015 a agosto de 2016. Para o cálculo amostral, foram adotados: 5% de prevalência de flebite, nível de significância de 5%, poder do teste de 80% e margem de não inferioridade de 3%, sendo estimada amostra de 1.305 pacientes. A amostra final do estudo foi de 1.319 pacientes, sendo 672 (50,9%) pacientes com remoção do CIP mediante indicação clínica e 647 (49,1%) com CIP removidos a cada 96 horas. Variáveis demográficas, clínicas e da terapia intravenosa foram estudadas. Para a análise estatística de variáveis categóricas, foram aplicados os testes do Qui-quadrado, Exato de Fisher e Generalização do Teste Exato de Fisher; para variáveis numéricas, Mann-Whitney ou Kruskal-Wallis (p≤0,005). Para a análise de sobrevida, utilizou-se a curva de Kaplan-Meier. Resultados: Quanto às variáveis demográficas, identificou-se maioria de idosos, com cor da pele branca, proporção semelhante quanto ao sexo, e cerca de 55% apresentavam algum grau de sobrepeso ou obesidade, sem diferenças significantes entre os grupos, exceto quanto ao tipo de admissão que foi predominantemente clínica no grupo indicação clínica (p=0,025). Os 1.319 pacientes utilizaram 2.747 CIP de material vialon de vários tipos, sendo que 119 (9,0%) pacientes desenvolveram flebite em 134 (4,9%) CIP, com 89,6% de flebite Grau 1 e Grau 2. Não houve diferenças significantes quanto à ocorrência de flebite em pacientes (p=0,162) e CIP (p=0,324). A taxa de incidência de flebite/1000 CIP-dia foi 14,9 no grupo indicação clínica e 23,8 no grupo remoção a cada 96 horas (p=0,006). A análise de sobrevida não evidenciou diferença significante (p=0,247) entre os grupos no que tange ao tempo para ocorrência do primeiro episódio de flebite. Quanto ao número de CIP inseridos, observou-se que quase metade dos pacientes (46,6%) fez uso de um CIP e 42,2% utilizaram de dois a três CIP, sem diferenças entre os grupos (p=0,339). O grupo indicação clínica apresentou maior média (p<0,001) de tempo de permanência do CIP. Quanto às complicações relacionadas ao CIP, foram mais frequentes no grupo remoção por indicação clínica (p<0,001), destacando-se a dor (p=0,004) e a infiltração (p=0,002). Conclusão: A hipótese do estudo foi aceita. A remoção do CIP segundo manifestações clínicas não foi inferior à remoção programada em 96 horas quanto à ocorrência de flebite. O tempo de permanência e a ocorrência de outras complicações, destacando-se dor e infiltração, foram mais frequentes quando da retirada do CIP por indicação clínica.