O vírus da leucemia viral felina (FeLV) tem distribuição mundial e pode causar diferentes tipos de alterações no organismo, sejam elas neoplásicas (linfoma, fibrossarcoma e doenças mieloproliferativas) ou não neoplásicas como anemia regenerativa ou arregenerativa. Além disso, podem causar imunossupressão e tornar os gatos mais susceptíveis às infecções oportunistas, como coinfecções com protozoários. A transmissão da FeLV ocorre
principalmente pela saliva contaminada. Os objetivos do presente estudo foram avaliar as alterações hematológicas relacionadas ao vírus da FeLV, descrever as características funcionais, citológicas e imunofenotípicas das células hematopoéticas da medula óssea em gatos negativos e positivos para FeLV, assim como determinar a ocorrência dos retrovírus FIV (vírus da imunodeficiência felina) e FeLV e a coinfecção pelos protozoários Toxoplasma gondii, Neospora caninum e Sarcocystis neurona em gatos no sul do Brasil. Para isso, o presente
trabalho foi divido em três capítulos. No primeiro capítulo, um total de 142 gatos domésticos foram testados por PCR em tempo real (qPCR) para detectar a infecção pelo vírus da FeLV e pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV). No segundo capítulo, foram coletadas amostras de medula óssea de 19 gatos, sendo 12 negativos e sete positivos para FeLV, considerando resultados por imunoabsorção enzimática (ELISA) e qPCR, e realizado mielograma, ensaio clonogênico, imunofenotipagem por citometria de fluxo e análise de carga viral, sendo esta última avaliada no sangue também. No terceiro capítulo, em 167 gatos domésticos foi realizado teste sorógico por ELISA para detecção de FIV e FeLV, e realizadas sorologia por reação de imunofluorescência indireta (RIFI) para detecção de T. gondii, N. caninum e S. neurona. Dos 142 gatos do primeiro capítulo, o vírus da FeLV foi encontrado em 41 (28,8%) animais. Entre os animais positivos, 27 (19%), 55,5% tinham anemia. As alterações mais prevalentes nestes 41 gatos positivos para FeLV foram anemia, anisocitose, neutrofilia e linfopenia. Nas amostras de medula óssea do segundo capítulo não houve diferença com relação ao crescimento de unidades formadoras de colônias em gatos portadores ou não do vírus. Das sete amostras de medula óssea dos gatos FeLV positivos, em duas verificou-se hipoplasia granulocítica e hiperplasia eritróide. No gato com hiperplasia eritróide foi encontrada a maior carga viral/mL no sangue (2.352.025.174,98) e na medula óssea (1.640.070.897,77). Na caracterização imunofenotípica os marcadores que apresentaram diferença foram o CD8, CD19 e o CD45 que foram mais expressivos em gatos infectados pelo vírus da FeLV. Verificou-se que em gatos infectados pelo vírus da leucemia felina na medula óssea, não houve interferência no desenvolvimento de células precursoras. A maior carga viral foi observada na medula óssea de
um gato com hiperplasia eritróide e anemia não regenerativa, demonstrando que apesar da alta produção de células eritróides na medula óssea, o vírus em alta quantidade não permite a maturação das células no sangue periférico. Dos 167 gatos do terceiro capítulo, 27% (45/167) foram soropositivos para T.gondii; 29,3% (49/167) para N. caninum e 3,6% (6/167) para S.neurona. O vírus da FeLV foi detectado em 24,6% e da FIV em 1,7% destes gatos. Os gatos do sul do Brasil foram expostos aos protozoários T. gondii, N. caninum e S. neurona. Observou-se
maior ocorrência de anticorpos para T. gondii do que em estudos anteriores realizados na mesma região. O presente estudo demonstrou a maior ocorrência de anticorpos anti N.caninum em gatos do Brasil. A soropositividade para S. neurona é o primeiro relato em gatos no sul do Brasil. Verificou-se coinfecção por mais de um protozoário. Foi observada soropositividade com diferença estatística (p<0,05) entre o protozoário N. caninum e o retrovírus FeLV. Foi notável a maior ocorrência (p=0,1) da FeLV em gatos semidomiciliados, condizente com o estudos que observaram o acesso a rua como fator de risco para este vírus. Entre os machos e fêmeas, não foi observada maior positividade para os agentes, exceto para S. neurona que foi observada maior prevalência para fêmeas. A análise da carga viral da medula óssea, das alterações hematológicas, e das coinfecções relacionadas ao vírus da FeLV devem ser realizadas com mais frequência em estudos científicos e na rotina clínica. Estes dados são de extrema importância para entendermos o modo de ação do vírus e, conseqüentemente, obter prognósticos mais precisos
e, futuramente, tratamento.