Resumo
As infecções virais que acometem o trato respiratório são responsáveis por
altas taxas de morbidade em todo o mundo. Estima-se que adultos possam
apresentar de uma a três infecções respiratórias agudas a cada ano. No ano de
2007 dois novos poliomavírus foram descritos, relacionados com infecção do trato
respiratório. O primeiro denominado KIPyV (Karolinska Institute), e o segundo
WUPyV (Washington University). No Brasil foram feitos dois estudos destes vírus em
amostras de saliva de crianças HIV soropositivas e amostras de saliva de adultos
imunocompetentes. Neste trabalho, investigamos a presença dos poliomavírus
KIPyV e WUPyV em crianças e adultos com infecção respiratória aguda em
diferentes situações clínicas e em adultos assintomáticos acompanhantes de
crianças sintomáticas. Foram utilizadas amostras de swabs nasal, lavados e
aspirados nasofaríngeos. Foram avaliadas 1667 amostras oriundas de oito
diferentes grupos de risco, entre os anos de 2002 a 2014, por PCR em tempo real
(qPCR). A detecção geral foi de 7,4%, sendo 3,1% para KIPyV e 4,1% para WUPyV,
e 0,2% para o dois vírus simultaneamente. Foi detectado 2,3% de monoinfecção
pelos poliomavírus KIPyV ou WUPyV na população infantil e 1,5% na população
adulta. A frequência geral nas crianças foi de 3,9% para KIPyV, 6,9% para WUPyV e
0,3% para KIPyV e WUPyV. Nos adultos, foi de 2,7% para KIPyV, 1,7% para
WUPyV e 0,1% para KIPyV e WUPyV. A frequência dos poliomavírus nas
populações infantis foi a seguinte: crianças sintomáticas/par adultos contatantes
domiciliares assintomáticos, 4% para KIPyV e WUPyV, e 2% para ambos os vírus;
crianças do pronto atendimento 6,5% (KIPyV), 9,5% (WUPyV), e 0,3% (KIPyV e
WUPyV); crianças com cardiopatia congênita: 0,8% (KIPyV), e 4,1% (WUPyV);
crianças hospitalizadas com suspeita de influenza A(H1N1pdm09): 2,6% (KIPyV), e
5,9% (WUPyV). Nas populações adultas, as frequências foram as seguintes: adultos
contatantes domiciliares assintomáticos/par crianças sintomáticas houve somente
detecção de KIPyV (2%); transplantados renais: 3% (KIPyV), e 1,5% (WUPyV);
transplante de células tronco hematopoiéticas: 5,4% (KIPyV), 2,4% (WUPyV), e
0,5% (KIPyV e WUPyV); HIV soropositivo houve somente a presença de KIPyV
(2,6%); adultos com suspeita de influenza A(H1N1pdm09): 1,5% (KIPyV), e 2%
(WUPyV); nos profissionais da área da saúde não houve detecção dos poliomavírus.
Nos pacientes com suspeita de influenza A H1N1 (pdm09), quatro tiveram
monoinfecção com os poliomavírus, sendo 1 desfecho fatal. Dos pacientes do
programa de transplante de células tronco hematopoiéticas, seis tiveram
monoinfecção pelos poliomavírus KIPyV ou WUPyV, com dois desfechos fatais. As
infecções foram mais frequentes em crianças menores de 5 anos. Somente um
paciente assintomático teve detecção de WUPyV. Em um paciente de transplante de
células tronco hematopoiéticas, KIPyV pode ser detectado ao longo de 9 meses. Em
suma, nossos dados sugerem que esses poliomavírus estão envolvidos no
desenvolvimento de Infecções do trato respiratório, principalmente em pacientes
imunocomprometidos. Porém, aspectos sobre sua patogênese precisam ser
elucidados.