Objetivos: (1) Comparar o consumo alcoólico das mulheres que foram atendidas em
prontos-socorros de países desenvolvidos e em desenvolvimento; (2) Delinear o perfil
sociodemográficos das mulheres que foram atendidas nesses prontos-socorros com
presença de trauma e alcoolemia; (3) Descrever a ocorrência de trauma violento em
mulheres que consumiram álcool seis horas antes da ocorrência do trauma. Método:
Trata-se de um estudo prospectivo de corte transversal que avaliou o consumo
alcoólico das mulheres atendidas em prontos-socorros com queixa de trauma não fatal
dentro de 6 horas. Foi utilizado um questionário padronizado pela OMS; o autorrelato
do consumo de álcool nas últimas 24 horas antes do contato e a concentração de
álcool no sangue. A amostra foi composta por dados coletados em hospitais de 15
países com 3937 mulheres como parte de dois estudos multicêntricos: o ERCAAP
(Emergency Room Colaborative Alcohol Analysis Project) e o WHO (World Health
Organization) Collaborative Study on Alcohol Injuries, ambos com metodologia
semelhante. Foram realizadas análises descritivas com intervalo de confiança (IC) de
95%. Resultados: A idade média das mulheres investigadas foi de 39,85 anos (DP =
18,23) e a idade mínima e máxima variou entre 18 e 98 anos. Mulheres de países
desenvolvidos tinham maior nível de escolaridade (43,1% ensino médio e 37,2%
ensino superior) se comparadas às mulheres de países em desenvolvimento (44,8%
ensino fundamental e 36,6% ensino médio). Quase a metade das mulheres dos países
em desenvolvimento (52,3%) relataram não ter bebido nos últimos 12 meses
(abstinentes) e 2% disseram ter bebido diariamente. Em geral, as mulheres dos países
em desenvolvimento tiveram mais episódios de binge drinking (consumo de 5 a 11
doses de uma única vez) (33%) em relação às mulheres dos países desenvolvidos
(27,5%). A violência foi mais prevalente nos países desenvolvidos (32,1%), quando
comparada com os países em desenvolvimento (25,5%). O trauma violento foi mais
prevalente nos países em desenvolvimento (18,1%) do que nos países desenvolvidos
(8,6%). Observou-se associação entre trauma violento e frequência de consumo nos
últimos 12 meses, tanto em países em desenvolvimento (p=0,0069), quanto em países
desenvolvidos (p=0,0082). Verificou-se ainda que a porcentagem de trauma violento
em mulheres abstinentes (20,3%), que consumiram raramente (14,4%),
ocasionalmente (14,2%) e frequentemente (27,5%), de países em desenvolvimento
xv
foram superiores aos das mulheres residentes nos países desenvolvidos (7,1%, 6,2%,
8,7% e 12,4%, respectivamente). Conclusões: Mulheres de países em
desenvolvimento que sofreram trauma, embora tenham apresentado maior
prevalência na taxa de abstinência e menor taxa na prevalência de consumo diário de
álcool, beberam de forma mais perigosa e apresentaram mais trauma violento quando
comparadas aos países desenvolvidos. Os dados deste estudo evidenciam que a
associação de trauma em mulheres e o consumo de álcool deve considerar diferenças
socioeconômicas, padrões de consumo e situações de violência a fim de influenciar a
implementação de ações de prevenção, promoção da saúde e tratamento para esta
população.