No contexto da atenção primária à saúde, ocorrem ações integradas de educação e cuidado a
pessoas com Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, o que, no Brasil, se dá através da
Estratégia Saúde da Família (ESF), em consonância com o trabalho dos Agentes
Comunitários de Saúde (ACS). Tais doenças têm em comum a cronicidade e, se não
controladas, elevam os riscos de complicações à saúde, indicando a importância de
intervenções adequadas e contínuas para favorecer a adesão aos seus tratamentos. Adesão é a
medida em que o comportamento da pessoa corresponde às prescrições e recomendações dos
profissionais de saúde, sem se restringir a mera obediência. Fatores psicossociais podem
contribuir ou constituir barreiras que dificultam a adesão. Espera-se que os ACS disponham
de conhecimentos e habilidades para favorecer a adesão dos usuários que acompanham.
Diante da complexidade e relevância do tema, realizou-se uma pesquisa com o objetivo de
investigar as percepções de ACS no que se refere à identificação e manejo de aspectos
psicossociais que influenciam a adesão aos tratamentos de usuários com diagnóstico de
Hipertensão Arterial e/ou Diabetes Mellitus, conforme suas experiências no âmbito da ESF de
um Município do Rio de Janeiro. A coleta de dados foi conduzida com três enfermeiras e
dezesseis ACS de três equipes da ESF e incluiu múltiplos procedimentos: questionário para
obtenção de dados sociodemográficos e profissionais dos participantes; entrevista
semiestruturada com as enfermeiras; grupo focal e oficina para discussão de caso clínico com
os ACS. O material obtido foi categorizado e analisado de acordo com a Análise de Conteúdo
de Bardin. Uma boa adesão aos tratamentos foi entendida pelos ACS como aceitação da
doença/tratamento, comparecimento a consultas e envolvimento ativo no tratamento. Por
outro lado, os resultados indicaram dificuldades relacionadas ao uso de medicamentos,
seguimento da dieta alimentar e mudanças no estilo de vida, influenciadas por barreiras do
serviço de saúde, psicológicas, familiares, sociais e das características do tratamento. Para
lidar com problemas de adesão, os ACS apresentaram repertório de ação estratégico, criativo
e diversificado, voltado para a intervenção direta com os usuários ou para a busca de apoio
junto a outros profissionais e a familiares. Em suas intervenções, recebiam apoio da equipe de
referência, bem como da equipe de matriciamento. Entretanto, para maior integralidade do
cuidado, sugeriram a obtenção de apoio regular da equipe de saúde mental, com destaque para
o psicólogo, além da oportunidade de mais cursos e capacitações orientados para a prática.
Avaliaram suas experiências nas oficinas de forma positiva e útil ao fazer profissional.
Mostraram uma percepção ampla e adequada sobre os aspectos psicossociais implicados na
adesão e tentativas de atuação nos casos correspondentes. A participação no grupo focal
configurou-se como uma oportunidade de reflexão e aperfeiçoamento profissional,
possibilitando a troca de experiências entre os ACS e a maior conscientização sobre seus
fazeres. São necessários mais estudos sobre o tema da adesão a tratamentos no contexto de
trabalho dos ACS, visando subsidiar capacitações para estes profissionais com vistas a uma
atuação mais eficiente e efetiva frente aos inúmeros desafios de suas práticas