Objetivos: O objetivo primário do estudo foi avaliar a função do enxerto renal em
sobreviventes de sepse um ano após a infecção. Os objetivos secundários foram
determinar os fatores associados a necessidade de terapia renal substitutiva
durante o evento séptico, os fatores associados a perda de função do enxerto renal
um ano após o evento de sepse e reportar a letalidade na unidade de terapia
intensiva, no hospital, 6 meses e 1 ano após o evento séptico. Métodos: Trata-se
de estudo retrospectivo onde foram incluídos sequencialmente todos os pacientes
transplantados renais admitidos na unidade de terapia intensiva por sepse. Foram
excluídos pacientes em pós-operatório imediato de transplante renal, com perda de
enxerto já em terapia renal substitutiva, sem uso de imunossupressores,
transplantados pâncreas-rim e aqueles com proposta de cuidados paliativa em fim
de vida. Analisamos a função do enxerto renal pela taxa de filtração glomerular com
base na creatinina basal e a creatinina após 1 ano. Perda de função do enxerto nos
sobreviventes foi definida com base na mediana do percentual de perda de função
do enxerto após um ano. Foi realizada análise de regressão logística com método
stepwise foward. Os resultados foram expressos como odds ratio e seus intervalos
de confiança. A calibração do modelo foi avaliada pelo teste de Hosmer e
Lemeshow. Os resultados foram considerados significativos se o valor de p < 0,05.
Resultados: Foram incluídos 130 pacientes transplantados renais, com
mortalidade hospitalar de 37,7% e letalidade em 1 ano de 46,1%. Entre os 130
pacientes, 47 foram submetidos a terapia renal substitutiva na unidade de terapia
intensiva. A análise multivariada mostrou que menor taxa de filtração glomerular
basal e escore Avaliação Sequencial de Disfunção Orgânica (SOFA, do inglês,
Sequential Organ Failure Assessment) em 24h mais elevado foram associados a
maior necessidade de terapia renal substitutiva (OR: 0,964, IC 95%: 0,940 – 0,987,
p = 0,0029 e OR: 1,153, IC 95%: 1,0 – 1,328, p = 0,0493 respectivamente). Entre
os 70 sobreviventes após 1 ano, observamos redução na taxa de filtração
glomerular basal de 13,07% (- 44,25% – + 5,53%). A menor taxa de filtração
glomerular basal (OR: 1,04, IC 95%: 1,01 – 1,08, p = 0,009) e a necessidade de
terapia renal substitutiva durante o evento séptico (OR: 8,72, IC 95%: 1,84 – 41,28,
xiv
p = 0,006) foram associadas a uma queda mais expressiva da taxa de filtração
glomerular após 1 ano. Conclusão: Os fatores de risco associados a necessidade
de terapia renal substitutiva na sepse foram a taxa de filtração glomerular basal
reduzida e escore SOFA 24h elevado. A mortalidade por sepse foi alta nessa
população. Transplantados renais sobreviventes do episódio de sepse
apresentaram redução importante na função do enxerto renal 1 ano após o episódio
de infecção. A necessidade de terapia renal substitutiva durante o evento séptico e
a taxa de filtração glomerular basal foram fatores independentes associados a uma
queda mais expressiva da taxa de filtração glomerular nos sobreviventes.