O estudo se inicia com a análise da crítica nietzschiana ao racionalismo socrático,
articulada ao que irá se revelar como as bases do modelo iluminista de aprendizagem,
defendido aqui como insuficiente da perspectiva que reflete sobre o desenvolvimento
formativo constituinte do humano. Para tal adágio, será desenvolvida um breve estudo
sobre o culto grego ao mito, contraposto ao modelo formativo moderno. A figura
simbólica de Dionísio, elogiada por Nietzsche enquanto formadora do ethos grego, é
pareada então com a potência própria da criança e a argumentação visa demonstrar
que tais aspectos não são calculados pelo modo puramente racionalista de construção
de mundo, apesar de constitutivos do ser. O estudo se desenvolve analisando o
conceito de devir, a brincadeira enquanto ingrediente próprio da capacidade humana
em criar regras e invoca a finitude enquanto modalidade não apenas da presença e
sim do próprio mundo. Interligando a ideia de maturidade com o desenvolvimento da
Razão e o de natureza humana ao que é próprio de cada um, ou seja, o prosseguir
do nascimento até a vida adulta e a figura da criança enquanto devir, o debate aqui
fomentado indica que a potência inventiva e criativa seria natural ao humano,
enquanto que o pensamento racionalista, colocado como maturidade, acabaria por
colocar o humano no fim da própria história: despotencializado do que lhe é próprio,
voltado a uma faceta de seu ser, este humano, colocado desta forma, não poderia
então, sob tais condições, transvalorar à sua condição - servil, antinatural - eis uma
anti-tragédia da formação moderna, justamente porque não finda. O estudo se
encaminha então para a afirmação de que a rigidez das instituições educacionais não
é o que solidifica a tradição, o que o faz é justamente a potência inventiva, seu oposto.
Longe de querer prescrever uma nova forma de pedagogia, o presente trabalho, ao
elogiar a obra nietzschiana, convida a potência de cada um a criar as próprias
conclusões sobre como tornar-se quem se é, mas nunca quem se deve ser