A inserção e participação dos povos indígenas no Ensino Superior fazem parte de lutas e
reivindicações históricas dos movimentos sociais por igualdades de condições na educação e
nas políticas públicas educacionais. Em função de sua relevância no cenário educacional
brasileiro, elegeu-se essa temática para estudar o acesso e a permanência dos indígenas na
Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O estudo traz, dentre outras abordagens, a
discussão da educação indígena a partir dos conceitos introdutórios da perspectiva Decolonial,
da pedagogia crítica, dos conceitos de Interculturalismo e multiculturalismo; também
evidencia o processo de escolarização indígena; aborda ainda as políticas públicas em
educação a partir de uma perspectiva histórica e, finaliza com os desafios da diversidade
educacional na Região Amazônica. Seu objetivo foi analisar o Processo Seletivo Especial
(PSE) como uma Política de Ação Afirmativa de acesso dos indígenas na Ufopa, no período
de 2010 a 2015, e seu impacto para uma Educação Superior de qualidade para esses povos. Os
objetivos específicos visaram: traçar o Perfil dos indígenas ingressantes na Ufopa pelo PSE
(2010 – 2015); identificar as ações/estratégias de acesso dos indígenas através do PSE na
Ufopa desde a sua implantação; mapear as ações/estratégias da Política de Ação Afirmativa
para garantir a permanência dos indígenas na IFES; e, estudar o impacto decorrente da
presença de indígenas na Ufopa para promover uma Educação Superior de qualidade. É uma
pesquisa qualitativa descritiva e exploratória, do tipo estudo de caso microetnográfico.
Adotou-se entrevista gravada com Lideranças Indígenas (Cacique e Coordenador do Diretório
Acadêmico Indígena - DAIN), Gestores e Docentes da Ufopa; questionário online (Google
Forms) com Diretores de Institutos da Ufopa; questionário impresso com discentes indígenas
(PSE, 2010- 2015) e análise de seus memoriais acadêmicos. Os dados foram tratados pela
análise de conteúdos de Bardin (1997) e adotou-se a técnica de triangulação. Os resultados
revelaram que o PSE Indígena é uma expressão da Política de Ação Afirmativa da Ufopa que
possibilitou o acesso de 254 indígenas ao Ensino Superior entre 2010 e 2015, com acentuada
diversidade étnica (17 etnias), destacando-se os povos Arapiun (52), Wai Wai (40) e
Munduruku (40). O maior número deles concentravam-se nos Institutos de Ciências da
Educação (ICED) (43%) e de Ciências da Sociedade (ICS) (19%). Apesar de ações/estratégias
institucionais, de caráter esporádico (bolsa de monitoria CE ANAMA e Programa de
Facilitação de Aprendizagem), visando acompanhar discentes com maior índice de insucesso
acadêmico, seus altos percentuais induzem que a Ufopa não tem atingido resultados
satisfatórios que minimizem as dificuldades de aprendizagem desses indígenas,
principalmente em relação à vivência no mundo acadêmico. A pesquisa revela, portanto, que
desde a sua origem a Ufopa tem garantido anualmente o acesso dos indígenas ao ensino
superior por meio de sua Política Afirmativa, entretanto, em relação à permanência poucas
ações/estratégias têm sido efetivadas. Dada a complexidade própria desse processo formativo
e das especificidades dos discentes indígenas, após os resultados revelados neste estudo a
educação superior indígena, pautada nos princípios da Educação Integral numa perspectiva
humanística, capaz de promover o desenvolvimento integral do indivíduo nas suas dimensões
físicas, intelectual, social cultural e simbólica, é uma proposta a ser refletida na Ufopa, em
virtude dela ter um contingente significativo de povos indígenas residentes em suas
adjacências.