A presente tese analisa os discursos sobre a emergência e consolidação da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no período de 1962 até o ano em que foi
federalizada em 1979. Nosso corpus se constitui de obras memorialísticas, arquivos,
relatórios, atas de registros, jornais e históricos escolares sobre a fundação da referida
universidade, textos-objeto de análise de discurso arqueológico, com a finalidade de
apreender as práticas discursivas, historicamente constituídas, ligadas no contexto de sua
emergência. Problematizando a escrita da historiografia tradicional, em sua pretensão de
cientificidade, abordamos os discursos enquanto práticas no interior de uma batalha pela
constituição da memória e da história. Assim, as práticas não discursivas são integradas no
campo de estudo arqueológico, que inclui, além dos arquivos, a história da instituição, de seus
agentes, bem como do contexto social e político, contribuindo para o entendimento das
condições de emergência da Universidade e o ensino público superior em Mato Grosso e em
Mato Grosso do Sul, em suas múltiplas relações com os poderes estabelecidos. Nossa
hipótese geral é a de que a emergência da referida instituição de ensino está diretamente
relacionada a partir do consórcio entre interesses das elites campo-grandenses e das classes
médias, bem como aos interesses dos governos – no nível local, nacional e internacional, em
um contexto de convulsão social, internamente, e de Guerra Fria, no plano internacional –
respaldados na relação, estabelecida na cultura ocidental, entre saber e poder, colocando a
disposição os sujeitos nas diferentes formas de compreensão de suas atuações.