A doença de Chagas (DC), causada pelo Trypanosoma cruzi, faz parte da lista
das doenças tropicais negligenciadas considerada como uma doença
característica de populações pobres. Encontra-se em 21 países da América
Latina, deixando de ser um problema local dos países latinos para ser um
problema de saúde pública global. Este estudo teve como objetivo identificar a
prevalência de anticorpos anti-Trypanosoma cruzi em pacientes com histórico de
cardiopatia em área endêmica do extremo sul do Brasil. Participaram do estudo,
75 pacientes com idades de 34 a 85 anos, de ambos os sexos, portadores de
doença cardíaca, nos quais foi aplicado um questionário semiestruturado,
acompanhado por coleta de amostras de sangue para realização de dois testes
sorológicos, Imunoensaio de Quimioluminescência (ARCHITECT Chagas®,
Abbott) e Ensaio de Imunofluorescência Indireta (WAMA® Diagnostic), para
detecção de anticorpos IgG anti-Trypanosoma cruzi. Os resultados foram
quantificados e comparados através do Teste X2 com intervalo de confiança de
95% para análise de possíveis fatores de risco epidemiológicos. Os dados foram
coletados de novembro de 2016 a abril de 2017. Os resultados encontrados de
75 amostras sanguíneas, 21 hemolisaram, resultando em 54 sorologias, 1,9%
(01/54) mostrou-se positiva para T. cruzi. A via de transmissão vetorial foi a mais
relatada entre os mais velhos, enquanto que o grupo mais jovem relatou a via de
transmissão oral. Dos pacientes nascidos em municípios considerados
endêmicos para triatomíneos, 81,8% reconheceram o inseto, valor de P 0.0042
(OR 5,9), quando perguntados se alguém da família tem ou tinha DC, 83,3%
responderam que sim, P 0.043 (OR 5,2). Apesar da região ser endêmica para
DC, foi encontrado um resultado positivo para anticorpos anti-T.cruzi, os
pacientes mais velhos mencionaram a via vetorial como a principal via de
transmissão e tiveram maior reconhecimento do inseto, comprovando o fato de
que tiveram maior contato com o triatomíneo. Enquanto os mais jovens relataram
a via oral como principal via de transmissão, associado a lembrança devido as
divulgações da DC por rede de TV aberta, e apresentaram maior dificuldade de
reconhecimento do triatomíneo. Do mesmo modo, os pacientes que melhor
reconheceram o inseto e mencionaram ter alguém na família com DC, eram
nativos de municípios considerados endêmicos para o triatomíneo. Apesar de,
esperar-se maior prevalência para o grupo avaliado, baseado em resultados
obtidos de estudos anteriores executados na região sul do RS, o tema deste
estudo merece continuidade de pesquisas, uma vez que, ainda encontra-se
relatos de pessoas que tiveram contato com o barbeiro, resultados positivos para
T.cruzi e região endêmica para DC.