A esporotricose é uma micose subcutânea causada pelos fungos do complexo Sporothrix schenckii que, no Brasil, acomete frequentemente humanos, cães e, principalmente, gatos, sendo o felino o principal disseminador da doença no país. O Rio Grande do Sul é uma área endêmica dessa enfermidade, com maior número de casos concentrados na região sul do estado, e são escassos os estudos que avaliam as condições imunológicas dos gatos para elucidar os motivos pelos quais essa espécie é a principal disseminadora da esporotricose. Portanto, foi desenvolvido esse estudo com os objetivos de atualizar a epidemiologia da esporotricose felina na região sul do Rio Grande do Sul e avaliar a concentração sérica da interleucina-10 (IL-10) de gatos com esporotricose e gatos hígidos, relacionando esses valores à gravidade do quadro clínico dos pacientes. Foram estudados 30 casos de esporotricose felina atendidos no município de Pelotas (RS) e região. Aos tutores desses animais foram questionados dados do animal, sendo eles: endereço, idade, sexo, status reprodutivo, ambiente em que vivia, acesso à rua, contato com humanos, contato com outros, contactantes com lesões similares, principais hábitos, tempo desde o início das lesões e tratamento adotado previamente à orientação veterinária. Também foi avaliada a concentração sérica de IL-10 de 26 felinos com esporotricose, classificados de acordo com o número de lesões e de acordo com os sinais clínicos, determinando forma cutânea ou extracutânea; e oito gatos hígidos, considerados grupo controle. Os principais achados demonstraram que os casos foram predominantemente representados por adultos (entre um e cinco anos), machos, não castrados, com livre acesso à rua, semidomiciliados, com hábito de se envolver em brigas, que têm contato com humanos, cães e gatos, que levam de 6 a 12 meses para buscar atendimento veterinário, e recebem antifúngico sem orientação veterinária. A concentração sérica da IL-10 foi maior (0,738±0,191) nos felinos sem os sinais extracutâneos de esporotricose (p=0,017), possibilitando sugerir que o fungo induz uma maior produção de IL-10 no quadro brando da doença nos felinos, utilizando isso como um mecanismo de escape. Para minimizar o problema de saúde pública representado pela esporotricose, é de suma importância que a doença se torne de notificação obrigatória e que haja maiores apoio financeiro de órgãos vinculados à saúde humana e animal e trabalhos de conscientização para a população.