A presente tese teve como principal objetivo descrever a ictiofauna estuarina do estado de
Pernambuco, considerando indicadores clássicos de diversidade, complementada com
técnicas que avaliam a diversidade funcional. Por meio de um estudo de caso, avaliou-se a
vulnerabilidade das principais espécies capturadas pela pesca de camboa, através da
metodologia de Análise de Produtividade e Susceptibilidade (PSA), que tem como base a
produtividade biológica relacionada às características de vida de um estoque, e a
susceptibilidade dos organismos à captura durante um determinado tipo de pescaria. Os dados
foram coletados trimestralmente entre o período de outubro de 2012 a dezembro de 2014, nos
estuários de Itapissuma, Suape, Sirinhaém e Rio Formoso; utilizando-se apetrechos de pesca
ativos (arrastão de praia e mangote) e passivos (camboa). Foram amostrados um total de
48.754 indivíduos, pertencentes a 122 espécies, 80 gêneros e 36 famílias. Os indicadores de
diversidade, representados pelos índices de dominância e equitabilidade, revelaram que,
apesar de Itapissuma possuir uma grande diversidade de espécies, essas são bastante próximas
entre si do ponto de vista taxonômico, quando comparadas com as de outros estuários. Em
relação a diversidade funcional, Suape, Sirinhaém e Rio Formoso apresentaram uma maior
relação funcional entre si, com espécies bastante próximas, o que pode estar relacionado ao
fato das áreas serem geograficamente próximas e apresentarem características físicas bastante
semelhantes. O oposto foi observado para Itapissuma, que apresentou indivíduos
funcionalmente distantes entre si, fator associado às características do ambiente, como o
substrato lamoso e a grande incidência de mangues, que proporcionam uma maior diversidade
de habitats e uma assembleia de peixes morfologicamente distinta. Para a vulnerabilidade, as
espécies pertencentes às famílias Centropomidae e Lutjanidae foram classificadas como de
alto risco, ou seja, altamente vulneráveis à arte de pesca (neste caso, a camboa), devido às
caraterísticas da história de vida – espécies com tamanho relativamente grande e elevada
longevidade – e à maior suscetibilidade, considerando principalmente o elevado percentual de
captura de juvenis. Estudos que combinam a utilização de índices de diversidade, assim como
aqueles relacionados aos padrões ecológicos e biológicos, fornecem um melhor conhecimento
do estado em que se encontram as assembleias de peixes em estuários.