NAKAMURA-PEREIRA, M. Análise das Cesarianas no Brasil: Contribuições da Pesquisa Nascer no Brasil para Redução das Cesarianas Desnecessárias no País. 2017. 127 f. Tese (Doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil, 2017.
Nos últimos anos, o número de cesarianas (CS) elevou-se sobremaneira no Brasil, ultrapassando o número de partos vaginais. O objetivo geral deste trabalho foi avaliar os determinantes e estimar a magnitude das CS desnecessárias no Brasil. Foram utilizados dados coletados na pesquisa “Nascer no Brasil”, um estudo de base hospitalar, com 23.940 puérperas, em 266 hospitais de todos os estados do país, que ocorreu em 20112012. Esta tese apresenta em seu conteúdo três artigos. O primeiro artigo utiliza a classificação de Robson para avaliar as CS no Brasil com enfoque nas diferenças pela fonte de pagamento para o parto. O objetivo do segundo artigo é identificar os determinantes que estão associados à CS de repetição em mulheres candidatas ao parto vaginal após cesariana (PVAC). O terceiro artigo utiliza um método proposto pela OMS para calcular a taxa de cesariana apropriada para uma população, o denominado ModeloC. A taxa de CS no Brasil foi de 51,9% (42,9% no setor público e 87,9% no setor privado). Os grupos Robson com maior impacto na taxa de CS em ambos os setores foram o grupo 2 (nulíparas, termo, cefálica com parto induzido ou CS anteparto), grupo 5 (multíparas, termo, cefálica e CS anterior) e grupo 10 (gravidezes prematuras cefálicas), que responderam por mais de 70% das CS realizadas no país. Mulheres de alto risco tiveram significativamente maiores taxas de CS em comparação com as de baixo risco em quase todos os grupos de Robson somente no setor público. No grupo 5, 79,4% das mulheres consideradas elegíveis para PVAC tiveram CS, sendo que 66,1% delas tiveram CS eletiva. No setor público, a CS eletiva esteve associada com fatores socioeconômicos (maior escolaridade), obstétricos (preferência por CS ou sem preferência, ausência de parto vaginal anterior e macrossomia) e hospitalares (localização no interior, pequeno volume de partos, financiamento misto), enquanto no setor privado foi praticamente universal (95%). Através do Modelo-C, foi possível estimar que a taxa de CS do Brasil é o dobro da esperada com padrão similiar em todas regiões do país. As taxas de CS observadas são ao menos quatro vezes maiores que as estimadas pelo Modelo-C no grupo 1 de Robson, três vezes maiores no grupo 2 e cinco vezes maiores no grupo 4, enquanto é ligeiramente maior no grupo 5. Os resultados revelam que há um grande número de CS desnecessárias, por motivos não clínicos, sendo realizadas no país. A taxa de cesárea apropriada para as características da população é 26%, variando de 20% nos hospitais públicos a 44% nos privados. Os esforços para redução das CS devem se concentrar nas nulíparas e nas mulheres com cesárea anterior.