O tema da dissertação são as relações entre agricultores produtores de tabaco e entidades de representação política. O objetivo é analisar como os processos de construção de problemas públicos conformam a vinculação dos agricultores às entidades que se propõem como suas representantes. Para tanto, foi escolhido o município de Santa Cruz do Sul, onde a fumicultura é a principal atividade agrícola e onde estão presentes diversas organizações que se colocam na cena política como representantes dos fumicultores: a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), o Sindicato Rural (SR) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). O pano de fundo é a relação de disputa pelo capital político gerado pelo reconhecimento que os fumicultores dão a cada entidade a partir da sua atuação. Buscou-se fazer um resgate histórico das experiências associativas dos fumicultores, criadas no início do Século XX sob a liderança da Igreja da Imigração. Nos anos 1940, a legislação favoreceu a criação das Associações Rurais, hoje Sindicatos Rurais. Nos anos 1950, as Semanas Ruralistas deram espaço para a criação da primeira associação específica de fumicultores: a Afubra. Nos anos 1960, a FAG promoveu a criação de diversos STRs. O de Santa Cruz do Sul foi criado em 1962. Nos anos 1980, a Comissão Pastoral da Terra foi central para a mobilização de duas greves importantes de fumicultores, que resultaram na criação de um sindicato específico para a categoria: o Sintrafumo. Nos anos 2000 os fumicultores encontraram no MPA uma forma de reivindicar acesso ao Pronaf e deram a esta organização o estatuto de um ator relevante para o campo político em questão. Nesta diversidade de entidades representativas, a despeito das disputas entre elas, os produtores de tabaco estabelecem vinculações com mais de uma ao mesmo tempo e isto não configura uma contradição. Levando-se em consideração a importância da influência das dimensões não-institucionais da ação política, os principais elementos destacados na tentativa de explicação da relação entre fumicultores e suas organizações foram o reconhecimento pelo empenho de cada entidade na busca por soluções de problemas públicos; a prestação de serviços assistenciais; a mediação de políticas públicas e as relações de proximidade entre colonos e lideranças, sempre baseadas em avaliações morais a respeito de sua reputação no âmbito do princípio da reciprocidade.