Introdução e objetivo: A presença de arritmia ventricular está associada com
aumento do risco cardiovascular e de morte na população geral. A morte súbita
é a principal causa de morte nos pacientes com doença renal crônica (DRC)
dialítica. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da presença de arritmias
ventriculares sobre os desfechos clínicos de pacientes em estágios mais
precoces da DRC.
Métodos: Este estudo prospectivo avaliou 109 pacientes com DRC (TFGe
34,8±16,1 mL/min/1.73m², 57±11,4 anos, 61% homens, 24% diabéticos). A
hipótese testada foi se a presença de arritmias ventriculares assintomáticas no
Holter de 24hs estaria associada ao aumento do risco de eventos
cardiovasculares, hospitalização, morte e seu desfecho combinado em 24
meses de acompanhamento. Os pacientes que tinham extrassístoles
ventriculares em qualquer número foram considerados como portadores de
arritmia ventricular. Arritmia ventricular complexa foi definida como:
extrassístoles ventriculares multifocais ou pareadas, taquicardia ventricular não
sustentada ou fenômeno da onda R sobre a onda T.
Resultados: No início do estudo, foi observada qualquer arritmia ventricular em
34 % e arritmia ventricular complexa em 14% dos pacientes. Durante o
seguimento, foram registrados: 11 eventos cardiovasculares, 15
hospitalizações e 4 mortes. Todos os óbitos ocorreram nos pacientes com
qualquer arritmia ventricular. A presença de arritmia ventricular complexa no
início do estudo foi associada com eventos cardiovasculares (P<0,001),
hospitalizações (P=0,018), morte por todas as causas (P<0,001) e desfecho
combinado (P<0,001). Na análise multivariada, ajustando para fatores
demográficos, a presença de arritmia ventricular complexa foi associada com
aumento do risco do desfecho combinado (HR: 4,40; IC 95%: 1,60-12,13, P =
0,004).
Conclusão: Neste estudo piloto, a presença de arritmia ventricular complexa
assintomática em pacientes com DRC não dialítica foi frequente e se associou
com piores desfechos clínicos.