Micrurus frontalis, espécie de serpente da família Elapidae, é uma das principais responsáveis pelos acidentes elapídicos em humanos no Brasil. Seu veneno, composto por três frações, three finger toxin, fosfolipase A2 e metaloproteases, é conhecido por possuir alta toxicidade, causador de grave sintomatologia clínica. Sua ação principal é neurológica levando à paralisia flácida das vítimas e, consequentemente óbito, devido a insuficiência respiratória. Contudo, raros são os relatos na literatura científica sobre sua atividade específica sobre o sistema cardiovascular. Diante deste contexto, este trabalho tem como objetivo a avaliação das alterações cardíacas causadas pelo veneno de M. frontalis em cobaias (Cavia porcellus). Doze animais machos, adultos foram distribuídos em dois grupos (n=6) denominados, grupo veneno e grupo controle. Os animais do grupo veneno receberam 0,45 µg/g de peso vivo de veneno de M. frontalis diluídos em 0,2 ml de PBS/BSA por via intramuscular (IM) e, o grupo controle recebeu 0,2 ml de PBS/BSA por via IM. Os animais foram avaliados clinicamente, antes (tempo zero) e duas horas após, tempo final (TF), a inoculação do veneno ou PBS, por meio de exames de eletrocardiograma (ECG), ecodopplercardiograma (ECO) e perfil sanguíneo (hemograma e bioquímica sérica e plasmática). Após o TF, os animais foram eutanasiados, realizando-se necropsia e coleta de material para microscopias óptica e eletrônica. O ECG revelou a presença de arritmias, extrassístoles ventriculares, em 100% dos animais envenenados. Nesses mesmos animais, no ECO verificou-se um efeito inotrópico negativo do veneno de M. frontalis sobre a musculatura cardíaca reduzindo aproximadamente 25% da fração de ejeção cardíaca, além de uma vasoconstrição da artéria aorta e aumento do fluxo da artéria pulmonar. No perfil bioquímico cardiovascular observou-se um aumento significativo dos valores de troponina I, creatina quinase fração MB no TF de todos os animais envenenados. No coagulograma, observou-se diminuição do tempo de tromboplastina parcial ativada e dos valores de D-dímero no TF dos animais do grupo veneno. Conclui-se que, o veneno de M. frontalis possui atividade cardiotóxica e arritmogênica, capaz de causar lesão de fibras cardíacas, além de provocar um efeito inotrópico negativo sobre o coração