A célula endotelial exerce um papel essencial no controle vascular pela liberação de Fatores
Relaxantes Derivados do Endotélio (EDRFs) [óxido nítrico (NO), prostaciclina (PGI2) e fator
hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF)], e Fatores Constritores Derivados do Endotélio
(EDCFs) [prostaglandina H2 (PGH2) e Tromboxano A2 (TXA2), espécies reativas de oxigênio,
Angiotensina II (Ang II) e Endotelina-1 (ET-1)]. A maior parte dos estudos relacionados aos
EDRFs e EDCFs refere-se a territórios arteriais e pouco se sabe sobre territórios venosos
distintos, como veia cava (VC) e veia porta (VP). O presente estudo investigou a fisiologia da
célula endotelial venosa utilizando culturas primárias de VC e VP de ratos. Segmentos venosos
foram seccionados no sentido longitudinal, plaqueados com a face endotelial voltada para
baixo, cobertos com meio de cultura e mantidos em incubadora de CO2 5% a 37ºC durante 5
dias. Após a remoção dos explantes, as células foram subcultivadas e as culturas foram
estudadas entre a 4ª e 5ª passagens. A caracterização das culturas foi realizada por
imunocitoquímica para os marcadores específicos Fator de Von Willebrand (vWF) e NO sintase
endotelial (eNOS), observando-se também a marcação positiva de receptor de ET-1 (ETB) e
receptores de Ang II (AT1 e AT2). A produção basal de NO foi observada em culturas endoteliais
pré-incubadas com a sonda fluorescente DAF-2DA e observadas em microscopia confocal, e
complementada pela análise de expressão de eNOS determinada por western blot (n=4). A
produção de prostanoides foi quantificada no sobrenadante das culturas por técnica de enzimaimuno-
ensaio (n= 5 a 6). Culturas endoteliais de VC e VP apresentaram valores semelhantes
nas taxas basais de PGH2 (0,75±0,04 ng/mL vs 0,76±0,02 ng/mL, respectivamente); esses
níveis foram aumentados após a estimulação com Ang II [1μM] (1,00±0,07* ng/mL para VC vs
1,13±0,07* ng/mL para VP). Os níveis basais de PGI2 foram diferentes entre as culturas
estudadas, com valores de 29,12±1,24 ng/mL para VC vs 35,10±1,27* ng/mL para VP. A
estimulação com Ang II [1μM] aumentou a produção da PGI2 em células de VC (36,50±1,89*
ng/mL), mas não em VP (37,70±1,38 ng/mL) (*P<.05); entretanto, a expressão de COX (1 e 2)
foi semelhante entre as culturas (determinada por western blot, n=7). A estimulação com ET-1
[1μM] não modificou a liberação dos prostanóides em ambas as culturas. Resumindo, o
endotélio venoso pode ser isolado e estudado por meio de culturas primárias; essas células,
quando estudadas in vitro, produzem quantidades detectáveis de NO e prostaglandinas. A
participação de PGI2 na venodilatação pode ser pronunciada em VP quando comparada à VC.
O aumento consistente na produção de PHG2 por Ang II em endotélio de VC e VP indica a
importante modulação endotelial na venoconstrição. Os presentes dados revelam aspectos
ainda não esclarecidos da fisiologia vascular, e podem contribuir para um melhor entendimento
das respostas venosas aos agentes bloqueadores do Sistema Renina Angiotensina.